A relação de Derrida com a fenomenologia baseia-se não apenas em seus estudos detalhados de Husserl, mas também em sua complexa relação com Heidegger. Assim, em Positions, Derrida afirma:
O que tentei fazer não teria sido possível sem a abertura das questões de Heidegger… não teria sido possível sem a atenção ao que Heidegger chama de diferença entre o Ser e os entes, a diferença ôntico-ontológica que, de certa forma, permanece impensada pela filosofia. (Pos., p. 9)
Especialmente em Heidegger, Derrida descobriu a natureza do questionamento radical, a maneira pela qual as perguntas sempre carregam seus próprios pressupostos e abrem um espaço que é limitado pela natureza da própria pergunta. As repetidas tentativas de Heidegger de nomear a “diferença ontológica” entre o Ser (Sein) e os entes (Seienden), que, de acordo com Heidegger, permanece impensada na tradição filosófica, sua crítica à “ontoteologia” (a reificação do Ser como uma substância única — Deus), seu projeto de superar a metafísica da presença e sua tentativa de descobrir o “impensado” (das Ungedachte) em todo o pensamento, bem como sua tentativa de “destruição da história da filosofia”, são todos retomados, à sua maneira, no trabalho de Derrida. No entanto, Derrida também vê em Heidegger algum resquício da metafísica tradicional da presença, uma espécie de “nostalgia” da presença, evidente, por exemplo, nas discussões de Heidegger sobre a filosofia grega primitiva. Embora Heidegger seja um pensador da diferença, ele não compreende a força total da différance como Derrida a considera. Derrida, então, quer tornar Heidegger mais radical, liberar os textos de Heidegger de um certo compromisso com a presença e a metafísica.
A profunda interrogação de Heidegger sobre a questão do significado do próprio Ser rompe nossa confiança na tradição logocêntrica que assume uma identidade de ser e significado; como Derrida escreve, “destruindo as seguranças da ontoteologia, tal meditação contribui… para o deslocamento da unidade do sentido do ser” (Gramm., p. 22; 35-36). Em comum com o Heidegger posterior, ele acredita no poder da linguagem para moldar e distorcer o pensamento, e também concorda com Heidegger ao afirmar que “a linguagem fala o homem”. Em outras palavras, os seres humanos não são os criadores do sentido, mas habitam um mundo criado pelas forças impessoais da linguagem. Além disso, Derrida conecta essa visão heideggeriana com a afirmação semelhante de Saussure de que “a linguagem… não é uma função do sujeito que fala” (Margins, p. 15; 16).
(MORAN, Dermot. Introduction to Phenomenology. London: Routledge, 2000)