meta ta physika

Platão e Aristóteles foram os fundadores do que acabamos de expor, sumariamente, como a tarefa de pensar o ser dos entes. Como, no que respeita à entidade, se pensa o ente a partir e rumo à entidade, o pensamento deve passar por cima, deve ultrapassar o ente, que a cada vez se encontra justamente aí. Em grego usa-se metá: para dizer esse saltar para além, de um rumo ao outro. O ente que a partir de si mesmo se encontra a cada vez, desta ou daquela maneira, enquanto isso e aquilo, sem acréscimos do homem, (72) o mar, a montanha, as florestas, os animais, o céu e também os homens e os deuses, constitui o que advém, o que provém e, portanto, o que ali está, hypokeimenon, aquilo que vem ao encontro do homem. Aqui aparece o vigor de presença daquilo que o homem recebe sem precisar proceder. Este vigora “junto” do homem, vindo ao seu encontro num excesso e mesmo num sobressalto. Para os gregos, o que aparece a partir de si mesmo, que “vigora” junto do homem, é o ente em sentido autêntico, porque, por razões que ainda não somos capazes de discutir, eles fizeram a experiência de ser no sentido de um vigor de presença. O que surge a partir de si mesmo, e aparece em todo vigor de presença, é tá physei onta ou ta physika. Isso aparece como o que se demora em todo lá e cá, em todo aqui e agora, no a cada vez. Mas, ao se colocar a pergunta tí tò ón, a pergunta não se dirige ao ente em seu a cada vez, mas para além (metá) do ente, “ultra”-passando para o ser dos entes. A pergunta tí tò ón não pensa tá physika. Pensa metáphysika. O pensamento que pensa a partir da ousia – da entidade – ultrapassa, salta para o ser por sobre o ente e seu a cada vez. É um pensamento metáphysika, isto é, “metafísico”. Desde Platão e Aristóteles, o pensamento ocidental é até hoje “metafísica”. O pensamento dos pensadores originários ainda não é metafísica. Todavia, eles pensam o ser. Pensam o ser de outro modo, porém. Ao pronunciarem a palavra tò ón, tá onta, o ente, os pensadores originários, justamente por serem pensadores, não pensam substantivamente a palavra “participial”, e sim verbalmente, tò ón, o ente, é pensado no sentido de sendo, isto é, de ser. tò ón, ou a forma arcaica tò eon, significa para Parmênides o mesmo que tò einai. (GA55MSC:72-73)