O mesmo permanece o mesmo até para nós, apenas quando e enquanto vemos o mesmo como ele mesmo, conservando-o na visão sem esquecê-lo. Uma vez que, por várias razões, os homens preferem se entregar ao novo e ao mais novo de uma progressão, o que sempre e rapidamente se esgota, porque se torna o mesmo, não passa de enfadonho. De tempos em tempos surge, então, um pensador para que no percurso histórico de um povo não seja esquecido esse absoluto, ou seja, o mesmo enfadonho. (GA55MSC:56)
O fragmento III diz, com concisão, que pensar pertence a ser. Como caracterizar esse pertencer? Essa pergunta chega muito tarde. É que já as palavras iniciais do fragmento respondem a essa pergunta: to gar auto, a saber, o mesmo. O fragmento VIII, 34 começa com essas mesmas palavras: tauton. Será que ao dizer que ambos são o mesmo essa palavra responde a pergunta de como pensar pertence a ser? A palavra não dá resposta alguma. Primeiro porque a determinação “o mesmo” exclui toda pergunta acerca de um pertencer que só acontece entre coisas diversas. Em segundo lugar, porque a palavra “o mesmo” não diz absolutamente nada sobre a perspectiva e o fundamento a partir dos quais o diverso coincide no mesmo. Assim, em ambos os fragmentos, para não dizer em todo o pensamento de Parménides, o to auto, o mesmo, permanece a palavra enigmática.
Admitindo como certo que a palavra to auto, o mesmo, significa o idêntico, considerando por fim a identidade como o pressuposto mais claro do que faz de tudo que é passível de ser pensado um pensamento, perdemos cada vez mais a medida capaz de nos permitir escutar a palavra enigmática. (GA7 214)
Se, portanto, procuramos um diálogo pensante com Hegel, devemos falar-lhe não apenas sobre o mesmo objeto, mas, da mesma maneira, sobre o mesmo objeto. O mesmo, porém, não é o igual. No igual a diversidade desaparece. No mesmo a diversidade se manifesta. Ela surge com tanto mais premência quanto mais decisivamente um pensamento é abordado do mesmo modo pelo mesmo objeto. Hegel pensa o ser do ente especulativo-historialmente. Ora, bem, na medida em que o pensamento de Hegel faz parte de uma época histórica (isto não significa absolutamente que pertença ao passado), procuramos pensar, da mesma maneira que Hegel, o ser por ele pensado, quer dizer, historialmente. (MHeidegger – A constituição onto-teo-lógica da metafísica 187)