McNeill (1999:42-43) – prohairesis

(…) a relação entre a escolha prévia (prohairesis), a deliberação (bouleuesthai) e a aisthesis prática merece mais atenção. Pois a premissa principal do silogismo prático, o fim específico escolhido, é de fato subserviente a algum outro fim ou bem. Isso implica que qualquer fim particular da praxis é, em si mesmo, apenas um meio para algum outro fim (como Aristóteles observa, tanto a escolha quanto a deliberação na esfera da ação estão preocupadas não com os fins, mas apenas com os meios (ton pros la tele: Ética a Nicômaco, 1111 b4ss.) — uma ordem de implicação que pareceria regredir ad infinitum se não houvesse algum fim supremo ou último (EN, 1094 a19f.). Como Aristóteles observa no Livro I, “uma coisa escolhida sempre (aei) como um fim e nunca como um meio é chamada de absolutamente final ou completa (haplos de teleion)” (EN, 1097 a34).1.

Aristóteles aponta que, enquanto uma prohairesis é uma escolha que se relaciona com o desdobramento imediato de uma situação de tal forma a ser mantida em aberto em seu caráter futural (ela tem, ao mesmo tempo — o momento da ação — já foi escolhida e ainda é mantida aberta à modificação via deliberação: EN, 1139 b6f), há escolhas ou compromissos mais primários que são relativamente fixos (como a profissão de alguém: EN, 1112 b12f.) e podem ser considerados fins em si mesmos (por exemplo, promover a saúde na medida em que se é médico). Mas mesmo esses fins estão, em princípio, abertos a mudanças e deliberações (se, por exemplo, o médico perder seu emprego). Além disso, sua contingência é indicada pelo fato de que, como fins particulares, eles também podem ser vistos como meios para algum outro fim (por exemplo, ganhar dinheiro) e, portanto, não são o fim último ou verdadeiramente primário de uma existência particular. Qual é, então, o fim último ou o bem supremo (telos haplos, ariston) para nós, seres humanos (pros hemas)? De acordo com Aristóteles, o bem humano é o ergon, a ação e a atividade (energeia) da alma em sua excelência ou virtude (arete) mais apropriada, que será mostrada como sendo a do noûs (EN, 1097 b21ff). O fim último de uma existência particular é a própria existência como tal, naquilo que lhe é mais próprio como origem da praxis, isto é, em sua própria finitude. Pois toda cadeia de deliberação retorna a si mesmo no final, isto é, ao seu próprio ser como uma arche da praxis. Levamos nosso raciocínio de volta ao eschaton, ao seu fim último (1112 b19), que é o início da ação (proton en tei genesei: 1112 b24); paramos (pauetai) de perguntar como agir quando trouxemos a origem da ação de volta a nós mesmos e à parte dominante de nós mesmos (1113 a5).

No entanto, como, se de fato, a praxis como um fim em si mesmo, como um fim incondicional, está presente na phronesis? É algo para o qual nos orientamos antecipadamente no logos de uma projeção ou prohairesis mais primária — o resultado, talvez, de uma reflexão filosófica, teórica ou técnico-calculativa anterior sobre a natureza do bem? Se esse fosse o caso, a praxis não poderia ser um fim em si mesma, distinta da poiesis, como Aristóteles argumenta, mas se tornaria subserviente a um fim extrínseco, inscrevendo-se, assim, dentro do esquema meio-fim da deliberação calculativa característica da techne?[[Essa ameaça à praxis foi amplamente discutida por Robert Bernasconi, “The Fate of the Distinction between Praxis and Poiesis”, em Heidegger in Question (New Jersey: Humanities, 1993), 2-24. Veja também seu ensaio “Technology and the Ethics of Praxis”. Mais recentemente, essa questão foi colocada em um contexto mais amplo por Dana R. Villa em Arendt and Heidegger: The Fate of the Political.] Esse fim é então acessível na, ou por meio da, aisthesis prática que revela a existência momentânea do phronimos na situação particular?

  1. Na leitura de Heidegger, a prioridade ontológica daquilo que ‘sempre’ (aei) é como é, se mostrará decisiva na decisão da prioridade da theorein e da sophia sobre a phronesis[]