McNeill (1999:32-33) – episteme

Aristóteles começa sua investigação comparativa considerando a episteme (Ética a Nicômaco VI). O conhecimento epistêmico tem como objeto algo que existe por necessidade e é eterno (aidion). Seu objeto não pode estar sujeito a crescimento ou decadência (é ageneta) (Ética a Nicômaco, 1139 b24). E isso significa que seu ser deve permanecer constante mesmo quando o objeto não está sendo observado ou contemplado: o conhecimento epistêmico deve dispor sobre seu objeto mesmo exo tou theorein, “fora de uma contemplação real em qualquer momento”, como diz Heidegger. A característica de conhecimento da episteme, como uma forma de revelação, pode, portanto, ser vista como a preservação da descoberta de seu objeto. Revela e preserva em tal revelação o ser de seu objeto, mas de uma maneira muito específica. Heidegger afirma:

É um ser disposto (Gestelltsein) em relação aos entes do mundo que dispõe sobre a aparência (Aussehen) desses entes. A episteme é uma hexis de aletheuein (b31). Nessa hexis, a aparência dos entes é preservada. (GA19, 32)

Esse modo de preservação, no entanto, por sua própria natureza, implica que os entes acessíveis a ela e conhecidos dessa maneira “nunca podem ser ocultados”. Não podem se tornar outros em seu ser essencial, mesmo quando não estão puramente presentes à nossa contemplação. O conhecimento “científico”, portanto, nega fundamentalmente a possível auto-ocultação dos entes em sua reivindicação de conhecimento, embora deva pressupor essa mesma ocultação como sua própria razão de ser. As implicações mais amplas disso se tornarão aparentes à medida que nosso estudo progredir.

Além de ser uma hexis de revelação ou descoberta, a episteme é uma hexis de demonstração. Ela procede por dedução ou “silogismo” em vez de por indução (epagoge), uma vez que o conhecimento relativo à episteme pode ser ensinado, e “todo ensino procede daquilo que já é conhecido”. Em outras palavras, a episteme pressupõe que já estejamos em posse explícita de certos archai (EN, 1139 b18). Como passível de ser aprendida e ensinada, a episteme constitui um tipo independente de conhecimento — seu logos permanece verdadeiro quer seus objetos estejam ou não presentes para ela, e ainda assim, precisamente por causa disso, ela não fornece em si mesma acesso à revelação final ou ao ser verdadeiro de seus objetos (GA19, 31f.). Tal verdade pode ser apreendida apenas pelo noûs, pois diz respeito a uma verdade do ser e não meramente a uma verdade “lógica” ou apofântica.