O fato de que nossa existência está em questão para nós é indicado pelo caráter aparentemente “contingente” dessa existência — não há necessidade que fundamente a existência, e não apenas não há necessidade do fato de termos vindo à existência, mas também não há necessidade da continuação dessa existência — de fato, nos termos que Heidegger empregará em Ser e Tempo e em outros lugares, nossa existência é sempre orientada para a nulidade de sua existência, ou seja, para sua falta de qualquer fundamento independente e, portanto, para o limite que lhe é apresentado na morte. A forma como a morte figura na estrutura da existência é algo que Heidegger desenvolve detalhadamente em Ser e Tempo, mas a conexão entre situação e questionabilidade é um tema que percorre grande parte de seu pensamento inicial. A palestra O Conceito de Tempo (GA14), de 1924, por exemplo, termina com uma discussão sobre a maneira como a questão do tempo se conecta com a questão da existência situada entendida como “Dasein” e conclui com a frase “Então Dasein seria: ser questionador”. A mesma ênfase é transferida para o próprio Ser e Tempo. Lá, Heidegger escreve de forma célebre sobre a questão do ser que “A própria formulação dessa pergunta é o modo de ser de uma entidade; e, como tal, ela obtém seu caráter essencial daquilo que é questionado — a saber, o Ser. Esse ente que cada um de nós é e que inclui a indagação como uma das possibilidades de seu Ser, nós denotaremos pelo termo Dasein.”
(MALPAS, Jeffrey E. Heidegger’s topology: being, place, world. Cambridge (Mass.): MIT Press, 2006)