Seu outro sinal [de Artemis], a “tocha”, é o sinal da morte enquanto o que não se esvai e não se apaga. A portadora da luz é portadora da morte. Vida e morte [Leben und Tod], luz e noite [Licht und Nacht] correspondem-se justamente ao se “contradizerem” [widersprechen]. Artemis, a altaneira, permite que em seu aparecimento brilhe em todo ente essa “contra-dicção” [Wider-spruch]. Ela é o aparecimento do contrário [Erscheinung des Gegenwendigen], que nunca e em parte alguma pretende resolver o contrário ou favorecer um dos lados a fim de superar o contrário. Como portadora da luz [Lichtbringerin], ela é o aparecimento do contrário. Ela é isso porque já permite originariamente a visualização do extraordinário da luta [Streit] no ordinário. Artemis é uma portadora da luta vigorosa e essencial, da eris. Essa luta não é somente insuperável, mas pertence à sua essência lutar contra a superação e toda tentativa de superação.
Sem dúvida, é preciso aqui afastar da palavra “luta” a representação comum, em que predomina a esfera do ódio e da ira. “Combate” e “guerra” [Kampf und Krieg] também não seriam suficientes para exprimir a essência do que aqui se vem chamando de “luta”, de “eris”. Combate e guerra são uma espécie e uma subespécie do que aqui chamamos de “eris”, de luta, embora em sua essência a luta não seja, necessariamente, o mesmo que “combate” e “guerra”. Só será possível tentar pensar aquilo que constitui o a-se-pensar [Zu-denkende] para o pensador originário Heráclito fazendo-se o encontro da luz e do fogo [Feuer], do jogo [Spiel] e da vida e, em todos eles, da “luta”. O que a deusa Artemis deixa transparecer em seu aparecimento indica o que constitui o a-se-pensar para o pensador. [GA55MSC:40]