Os gregos possuíam um termo adequado para dizer as “coisas”: pragmata isto é, aquilo com que se LIDA (praxis) na ocupação. Eles, no entanto, deixaram de esclarecer ontologicamente, justamente o caráter “pragmático” dos pragmata, determinando-os “imediatamente” como “meras coisas” {CH: por quê? eidos – morphe – hyle! mas de techne, portanto, interpretação “técnica”! Se morphe não como eidos, idea!}. Designamos o ente que vem ao encontro na ocupação com o termo instrumento. Na LIDA, encontram-se instrumentos de escrever, de medição, de costura, carros, utensílio. Cabe assim expor o modo de ser do instrumento. Essa exposição acontece, seguindo-se o fio condutor de uma delimitação prévia daquilo que faz de um instrumento, instrumento, ou seja, do instrumental. STMSC: §15
O que está à mão, o manual, nem se apreende teoricamente nem se torna diretamente tema da circunvisão. O que está imediatamente à mão caracteriza-se por recolher-se na sua manualidade para, justamente assim, ficar à mão. A LIDA cotidiana não se detém diretamente nos utensílios em si mesmos. Aquilo com que primeiro se ocupa e, consequentemente, o que primeiro está à mão é a obra a ser produzida. É a obra que sustenta a totalidade das referências na qual o instrumento vem ao encontro. STMSC: §15
À cotidianidade de ser-no-mundo pertencem modos de ocupação que permitem o encontro com o ente de que se ocupa, de tal maneira que apareça a determinação mundana dos entes intramundanos. Na ocupação, o ente que está mais imediatamente à mão pode ser encontrado como algo que não é passível de ser empregado ou como algo que não se acha em condições de cumprir seu emprego específico. O utensílio se apresenta danificado, o material inadequado. Em todo caso, um instrumento está aqui à mão. Mas o que a impossibilidade de emprego descobre não é a constatação visual de propriedades e sim a circunvisão da LIDA no uso. Nessa descoberta da impossibilidade de emprego, o instrumento surpreende. A surpresa proporciona o instrumento num determinado modo de não estar à mão. Entretanto, aí se acha o seguinte: o que não pode ser usado está simplesmente aí – mostra-se como coisa-instrumento, dotada de tal e tal configuração, e que, em sua manualidade, é sempre simplesmente dada nessa configuração. O puro ser simplesmente dado anuncia-se no instrumento de modo a, contudo, recolher-se novamente à manualidade do que se acha em ocupação, ou seja, do que se encontra na possibilidade de se pôr de novo em condições. Esse ser simplesmente dado do que não pode ser usado não carece, todavia inteiramente de manualidade. O instrumento assim simplesmente dado ainda não é uma coisa que aparece em algum lugar. A danificação do instrumento também ainda não é sua transformação em simples coisa ou uma mera troca de características de algo simplesmente dado. STMSC: §16
Na LIDA com o mundo na ocupação, ainda se pode encontrar um manual não apenas no sentido do que não pode ser empregado ou do que simplesmente está faltando, mas também, enquanto não manual. O que não falta e não é passível de emprego, como o que “obstrui o caminho” para a ocupação. Aquilo para que a ocupação não pode voltar-se, aquilo para que ela não tem “tempo”, é um não manual, no modo do que não pertence ou não se finalizou. Esse não estar à mão perturba e faz aparecer a impertinência do que, numa primeira aproximação e antes de tudo, deve ocupar-se. Com esta impertinência, anuncia-se de maneira nova o ser simplesmente dado do manual como o ser daquilo que se apresenta, exigindo ainda a sua finalização. STMSC: §16
Os sinais são, no entanto, antes de tudo, instrumentos cujo caráter instrumental específico consiste em mostrar. Dentre esses sinais temos as placas e pedras nos caminhos, as boias de navegação, bandeiras, sinais, fumaça, etc. A ação de mostrar pode ser determinada como uma “espécie” de referência. Num sentido extremamente formal, toda referência é um relacionar. Relação, porém, não é gênero para “espécies” de referências que se diferenciam em sinais, símbolo, expressão e significado. Relação é uma determinação formal que, através da “formalização”, pode ser LIDA diretamente em cada espécie de conexão entre qualquer conteúdo e modo de ser. STMSC: §17