Tradition

Tradition, tradição, traditio, tradición

III. The talk about ‘history-less tribes and peoples’, be it justified or not, again means something different by the word ‘history’: tribes without history do not publish editions of public documents, do not write down an account of their past. This does not mean that those tribes are lacking a developed science of history, the factical possibility of also having available in their factical life experience the access to a certain theoretical attitude towards a certain domain of subject matter. They are without history – neither means that with respect to their Dasein, the Dasein of the tribe, there was no earlier time, that in general nothing happened to them in earlier times, that nothing happens with them, that nothing occurs in which it was in such and such a way, maybe just as today. Those who are living now are the later ones of earlier ones, they have an earlier time in which they were in such and such a way, but they have no history. It means that they have no tradition, they do not ‘feel’ as the later ones of earlier ones. The past for them is not a character in which they factically live and which somehow permeates the content of their life experience; they do not cultivate the past. The history-less tribes do not live in situations that are pervaded by estimations and the inclusion of the meaningful past into the factical circle of life – even if only latently and by habit. They live each day as it comes, according to what the day may bring. They also have no future, no tasks. Conversely, what they did and lived likewise does not interest them. And they are also indifferent to the achievements as present which to them is a detached result that is ‘over’. (Later we shall see to what extent one can then speak of a-historical ‘being’ and further of ‘anti-historical’ being, whether in both cases ‘historical’ refers to the same sense-complex.) – The interpretation that they do not know their own past also misses the meaning. For one can ‘have’ a very rich tradition, i.e. one can live out of it and from it without actually knowing the past as a subject matter. Mostly this is precisely not the case. (HEIDEGGER, Martin. Phenomenology of Intuition and Expression. Theory of Philosophical Concept Formation. Tr. Tracy Colony. London: Continuum, 2010, p. 35)


A questão acerca do sentido do ser possui uma história que lhe é própria. Essa história não se resume a um conjunto de posições filosóficas estanques, que estariam reunidas em um âmbito uno a partir apenas do fato de todas tratarem de um mesmo problema. Se este fosse o caso, o diálogo com a tradição não passaria de um requinte de erudição ou de uma atitude no máximo necessária para que não repetíssemos involuntariamente certas concepções há muito já comprovadas como insustentáveis. A justicativa para a necessidade do diálogo com a tradição precisa ser buscada em um âmbito mais profundo. Não é a simples existência histórica de um caminho de tematização da questão do ser que torna o diálogo com a tradição indispensável, mas antes o fato de ser a própria tradição que abre historicamente o campo e os limites para a colocação da questão. O passado possui aqui uma atuação constante sobre o presente, na medida em que determina o modo como o presente pode se constituir. (MACMundo1:13)


LÉXICO: (Tradition->http://hyperlexikon.hyperlogos.info/modules/lexikon/search.php?option=1&term=Tradition)

tradition

NT: ne pas confondre Überlieferung ou Ueberlieferung (ETEM)


NT: Tradition(al) (Tradition(ell)), Überlieferung), 4, 10-11, 18, 20-22, 24, 26, 42, 48-49, 96, 98-100, 129, 138, 147, 197, 214, 219-220, 223, 225, 235, 270fn, 333, 349, 395, 400, 403, 427, 429, 432 n. 30; conception of time, 18, 235, 349, 428, 432 n. 30; conception of truth, 214-226 (§§ 44a, b); ontology, 22, 25-27, 54, 65, 96, 99-100, 147, 403. See also Hand down; Retrieve; Transmit (BTJS)


Nas palavras do próprio Heidegger: “Desde Platão e Aristóteles, a questão diretriz de todos os pensadores (a questão ‘o que é o ente?’/ M. C.) foi estabelecida sobre uma via, na qual ela, apesar de todas as diferenças relativas às posições fundamentais dos pensadores posteriores, persiste ainda hoje”. (H, GA55, 76-7) Em outras palavras, não é apenas algo desejável para (13) o pensamento estabelecer um diálogo com a tradição, mas antes uma necessidade oriunda do fato de o pensamento partir constantemente da tradição. O modo de estabelecimento deste ponto de partida determina, por sua vez, o sentido mesmo do conceito heideggeriano de destruição.

Para Heidegger, nós nos movimentamos constantemente no interior de campos de problematização sedimentados, oriundos de possibilidades abertas pelo passado. Sem esses campos, não haveria nem mesmo a possibilidade de apreender uma questão enquanto questão, porque ela se colocaria fora da esfera de sentido daquilo que pode aparecer para alguém como efetivamente questionável. Tais campos sempre produzem, porém, uma espécie de soterramento de sua significação originária e de suas possibilidades futuras. Uma vez formulada uma questão e uma vez constituídos os caminhos predominantes de resposta a ela, tudo recai por assim dizer em um espaço de obviedade que acaba por atuar de uma forma obstrutiva. Não se problematiza mais o modo mesmo como a formulação foi estabelecida, nem tampouco se assume uma postura crítica em relação aos pressupostos vigentes nas respostas. Ao contrário, o máximo a que se alcança agora são pequenas modulações desses pressupostos. Com isto, de maneira um tanto paradoxal, o fato mesmo de a pergunta acerca do ser ter sido tradicionalmente formulada e de a tradição ter se empenhado historicamente de maneira sistemática pela resolução dessa questão produz um encurtamento de seu horizonte essencial e um obscurecimento de novas possibilidades de problematização. Por isto, “caso deva ser conquistada para a questão mesma do ser a transparência de sua própria história, é necessário um afrouxamento da tradição enrigecida e uma dissolução dos encobrimentos realizados por ela”. É preciso quebrar a força da obviedade e o seu poder letárgico sobre as possibilidades históricas da tradição. Heidegger compreende esta tarefa como “a destruição da consistência legada da ontologia antiga com vistas às experiências originárias, nas quais foram alcançadas as primeiras determinações de ser que continuaram em seguida diretrizes, uma destruição que chega a termo a partir do fio condutor da questão do ser. (ST, GA2, 30)” (MACMundo1:12-13)