Não sendo uma substância, a presença (Dasein) sempre se dá num exercício. Exercício indica e cumpre um centro irradiador de relações. Os dois planos em que, predominantemente, se desenvolve o exercício da presença (Dasein) promovem relações com dois modos de ser da existência: relações com o modo de ser dos entes simplesmente dados e relações com os entes dotados do modo de ser da presença (Dasein). Da perspectiva de seu centro irradiador, ambos os planos se caracterizam pela dinâmica própria de presença (Dasein). Ser e tempo decidiu-se pelo étimo Sorge = lat cura (cf. J. Grimm, Deutsches Wörterbuch, Dtv, vol. 16, p. 1755) para acompanhar o movimento e as relações da presença (Dasein). Os dois planos exprimem-se com derivados de Sorge (cura): Besorgen (ocupar-se) e Fürsorge (preocupar-se). A tradução decidiu utilizar o radical latino cura para Sorge, ocupação para Besorgen e (564) preocupação para Fürsorge. Os motivos dessa decisão atêm-se ao fato de o próprio Ser e tempo ter remetido à fábula latina de Higino sobre a Cura e à inexistência em português de derivados de cura na acepção de um relacionamento específico da presença (Dasein) com os seres simplesmente dados e com os seres existentes. O termo latino occupare provém da combinação do verbo capere e da preposição ob. Capere dá a ideia de tomar, pegar e prender. A preposição ob acrescenta a determinação de que se trata de um tomar e prender que preenche toda a envergadura das realizações do que se toma: ocupar. Quando a ocupação (Besorgen) respeita e considera a originalidade do que se toma, trata-se de uma relação de preocupação (Fürsorge). (2006, p. 564-565)
SORGE: Quando se pretende remeter para o nível de estruturação da presença (Dasein) em qualquer relação, usa-se sempre o termo latino cura, pois indica a constituição ontológica. Quando porém se quer acentuar as realizações concretas do exercício da presença (Dasein), ou seja, a sua dimensão ôntica utiliza-se a palavra cuidado e seus derivados. (2006, p. 565)
(Notas, in HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Tr. Marcia Schuback. Petrópolis: Vozes, 2006)