Para melhor enquadrar esta capacidade que tem o bom ou o mau humor por exemplo, mas também o amor e a cólera, de “presidir a abertura de ser do aí”, Heidegger forja o nome Befindlichkeit — literalmente: “o ser capaz de se encontrar”. Em estado afinado, o Dasein se acha e se encontra, quer dizer descobre que ele “já é sempre posto face a ele mesmo”. E esta descoberta é primeira: a tonalidade, com efeito, abre o Dasein a ele mesmo “antes de todo conhecer e todo querer e bem além de sua pauta de abertura” (Être et Temps, 136). Le [§29->art36] de Ser e Tempo designa três caracteres elementares a esta faculdade de se encontrar. Por um lado, ela descobre o Dasein em seu ser-lançado, mesmo se ela o faz a princípio e frequentemente sob a forma da distração que o esquiva. Como, por outro lado, o próprio de toda tonalidade é de nos invadir, quer dizer de nos tomar inteiramente, ela tem “cada vez já descoberto o ser no mundo em sua integralidade” — de onde a constatação que cada tonalidade não é somente a abertura a si mesmo do Dasein, mas constitui a cooriginal abertura do mundo — e logo do ser com os outros. Ao mesmo tempo, esta abertura tonal do mundo torna simplesmente possível o encontro com este mundo sob o modo do discernimento (disto que Aristóteles denominava a phronesis: a preocupação em operação em todo pensamento). O mundo aparece então como o que me concerne, isto a que estamos ligados. O ameaçante por exemplo não pode aparecer como isto que ele é senão àquele que se encontra afinado ao medo ou a impavidez. (p. 1260)