Condensemos as ideias fundamentais das nossas explanações: a hoje em dia tão falada “crise da existência europeia”, documentando- se em inumeráveis sintomas de desagregação da vida, não é nenhum destino obscuro, nenhuma fatalidade impenetrável, mas torna- se compreensível a partir do piano de fundo da teleologia da história europeia (51), que pode ser filosoficamente descoberta. Pressuposto para esta compreensão é, porém, que o fenómeno “Europa” seja, antes de tudo, captado no seu núcleo essencial central. Para que a desordem da “crise” hodierna possa ser concebida, o conceito Europa deve ser elaborado enquanto teleologia histórica de finalidades infinitas da razão, deve ser mostrado como o “mundo” europeu nasceu de ideias da razão, ou seja, do espírito da Filosofia. A “crise” pode, então, tornar-se clara como o aparente fracasso do Racionalismo. A razão do falhanço de uma cultura racional reside, porém – como foi dito –, não na essência do próprio Racionalismo, mas unicamente na sua alienação, na sua absorção no “naturalismo” e no “objectivismo”.
A crise da existência europeia tem apenas duas saídas: a decadência da Europa no afastamento perante o seu próprio sentido racional de vida, a queda na fobia ao espírito e na barbárie, ou então o renascimento da Europa a partir do espírito da <348> Filosofia, por meio de um heroísmo da razão que supere definitivamente o naturalismo. O maior perigo da Europa é o cansaço. Se lutarmos contra este perigo de todos os perigos como “bons europeus”, com aquela valentia que não se rende nem diante de uma luta infinita, então, do incêndio aniquilador da incredulidade, do fogo consumptivo do desespero a respeito da missão humana do Ocidente, das cinzas do cansaço enorme, ressuscitará a Fénix de uma nova interioridade de vida e de uma nova espiritualidade, como penhor de um grande e longínquo futuro para o Homem – porque só o espírito é imortal.