O acontecimento apropriador é o entre no que concerne ao passar ao largo do deus e à HISTÓRIA DO HOMEM. Mas não o campo intermediário indiferente. Ao contrário, a referência ao passar ao largo é a abertura usada por deus do dilaceramento em meio a um fosso abissal; por outro lado, a referência ao homem é o deixar emergir que se apropria em meio ao acontecimento da fundação do ser-aí e, com isto, da necessidade do abrigo da verdade do seer no ente como de uma restituição do ente. (tr. Casanova; GA65: 7)
A necessidade da filosofia consiste no fato de que ela não precisa afastar como meditação aquela indigência, mas suportá-la e fundamentá-la, transformá-la no fundamento da HISTÓRIA DO HOMEM. (tr. Casanova; GA65: 17)
Aquela indigência é, contudo, diversa nos inícios e transições essenciais da HISTÓRIA DO HOMEM. Nunca, porém, calculando externamente e de maneira míope, pode-se tomar a indigência como uma falha, como uma miséria e coisas do gênero. Ela se encontra para além de toda e qualquer valoração “pessimista” ou “otimista”. Sempre de acordo com a experiência inicial dessa indigência, ela é a tonalidade afetiva fundamental que afina para a necessidade. (tr. Casanova; GA65: 17)
O que significa aqui decisão? Ela determina sua essência a partir da essência da transição da Modernidade para o seu outro. Ela determina por meio daí a sua essência ou a transição é apenas o aceno para o interior de sua essência? As “decisões” surgem porque um outro início precisa ser? E esse outro início precisa ser, porque a essência do próprio seer é de-cisão e doa pela primeira vez nesse desdobramento essencial a sua verdade na HISTÓRIA DO HOMEM? É necessário aqui talvez dizer até mesmo de maneira pormenorizada aquilo que não se tem em vista com a expressão acerca da verdade do seer. (tr. Casanova; GA65: 44)
A abertura do fosso abissal tem sua primeira e mais ampla mensuração na necessidade do deus em uma direção e no pertencimento (ao seer) do homem segundo a outra direção. Aqui se essenciam os precipícios do deus e a subida do homem como aquele que é fundado no ser-aí. A abertura do fosso abissal é o alijamento interior incalculável do acontecimento da apropriação, da essenciação do seer como o meio utilizado que confere pertencimento, que permanece ligado ao passar ao largo do deus e, sobretudo, à HISTÓRIA DO HOMEM. (tr. Casanova; GA65: 157)
Aqui, a essência do seer não pode ser nem deduzida por meio da leitura de um ente determinado, nem de todos os entes conhecidos juntos. Sim, uma dedução é absolutamente impossível. O que vigora é um projeto originário e um salto, que só pode haurir a sua necessidade da mais profunda HISTÓRIA DO HOMEM, na medida em que o homem experimentará e alcançará a sua essência como aquele ente que está exposto ao ente (e, antes de tudo, à verdade do seer), exposição essa (aquele que preserva, que guarda e que busca) que constitui o fundamento de sua essência. Mesmo o estabelecimento da idea não é nenhuma dedução! Saber isso significa superá-la. (tr. Casanova; GA65: 184)
Falando em termos “formais”, o ser-aí precisa ser experimentado como preenchido, quer dizer, como a primeira preparação da transição para uma outra HISTÓRIA DO HOMEM. (tr. Casanova; GA65: 189)
Aquele pertencimento ao seer e essa necessidade do seer desentranham pela primeira vez o seer em seu encobrir-se como aquele ponto central marcado pela viragem, no qual o pertencimento ultrapassa a necessidade e a necessidade prepondera sobre o pertencimento: o seer como acontecimento apropriador, que acontece a partir desse excesso revirado de si mesmo e, assim, se torna a origem da contenda entre o deus e o homem, entre o passar ao largo do deus e a HISTÓRIA DO HOMEM. (tr. Casanova; GA65: 256)
Entrementes, porém, o ente se tornar cada vez mais poderoso sob a forma do elemento objetivo e do elemento presente à vista. O seer foi restrito à derradeira palidez do mais subtraído conceito universal e tudo o que é “universal” está submetido à suspeita de ser impotente e efetivamente irreal, do que é apenas “humano” e, por isso, também “alheio à essência”. Na medida em que o seer é colocado sob a máscara do que há de mais universal e vazio, ele não carece mais nem mesmo de uma rejeição expressa em favor do ente. Chega-se ao ponto de “prosseguir” sem o ser. Esse estado singular da HISTÓRIA DO HOMEM “felizmente” quase não é reconhecido por ele, para não falar de ele ser concebido ou mesmo acolhido na vontade da história. De saída, ele impele severamente para as suas próximas consequências. Logo se prossegue agora mesmo sem o ente e se satisfaz com os objetos, isto, se encontra toda “vida” e toda realidade efetiva no empreendimento do elemento objetivo. De uma vez só, o procedimento e o erigir, a mediação e a expulsão se mostram como mais essenciais do que aquilo para o que tudo isso está voltado. A “vida” é tragada para o cerne da vivência e essa vivência mesma se eleva em direção à instituição do vivenciar. A instituição do vivenciar é a mais elevada vivência, na qual “o impessoal” se reúne. O ente só se mostra ainda como um ensejo para essa instituição, e o que pode ser nesse caso ainda o seer? Nesse ponto, contudo, o ponto decisivo da história é vislumbrado para a meditação e desperta o saber de que só na travessia pelas decisões extremas é possível salvar ainda uma história em face do gigantesco da ausência de história. Por isso, procuramos em vão pela história, isto é, por sua tradição historiológica, a fim de nos depararmos com o seer mesmo como projeto. Se é que um aceno para essa essência do seer nos tocará um dia, nós precisaremos estar já equipados para experimentar a aletheia de maneira consonante com o primeiro início. De qualquer modo, porém, o quanto estamos distantes disso e, com certeza, definitivamente distantes? (tr. Casanova; GA65: 262)