O final da Segunda meditação, minada por uma contradição profunda, já mostra de que modo se cumpre, em Descartes, a obnubilação do videor por parte do videre e seu esquecimento progressivo. Por um lado, trata-se de recordar, como se fez, que o conhecimento da alma é mais fácil do que o do corpo e mais antigo que ele, de tal modo que todos os poderes que lhe servem para conhecer esse corpo devem primeiramente ser conhecidos em si mesmos. Assim, há – imanente aos poderes – uma parecença (semblance) originária na qual advêm em si mesmos e se manifestam como são. Com o pretexto de apreender melhor o conhecimento da alma, e precisamente porque é imanente ao do corpo e o torna possível, na realidade é esse conhecimento que se tematiza, é ele quem vai guiar a análise. O ser do conhecimento está determinado por o que é necessário nele para conhecer o dito corpo. Apercebe-se então que se requer é a visão da extensão, ou melhor, da sua ideia, uma visão que, por conseguinte, é a do entendimento mais que a do sentido ou da imaginação. A concorrência que se instaura entre essas três faculdades da alma convertidas em faculdades de conhecimento, para saber qual delas resulta ser verdadeiramente tal, em todo caso, deixa o terreno livre ao mero ver, que deve ser apreendido em sua pureza, abstração feita da confusão e da obscuridade que, pelo contrário, trazem em si o sentido e a imaginação. A Segunda meditação finaliza com a conclusão paradoxal que consiste em excluir a afetividade do aparecer para reduzi-lo ao mero ver, cuja essência se encontra circunscrita por sua vez, pela exclusão para fora de si da afetividade – como se a autoafecção originária do ver e sua imediação, em relação a si mesma, tivessem deixado de ser um problema, o problema do próprio cogito. (MHPsique:88)
Henry (1985:88) – videre e videor
- Henry (1996:340-341) – essência da práxis, o agir; essência do agir, a vida
- Henry (1996:340-341) – essência da práxis, o agir; essência do agir, a vida
- Henry (1996) – A verdade do mundo
- Henry (1996) – EU – EUs
- Henry (1996) – Eu Sou a Verdade
- Henry (1996) – Fenomenologia de Cristo
- Henry (1996) – Filho no Filho
- Henry (1996) – homem = “filho de Deus”
- Henry (1996) – O Arquifilho
- Henry (1996) – Que chamaremos “cristianismo”?