Wisser: De que maneira a sua filosofia pode hoje agir perante uma sociedade concreta com seus múltiplos encargos e preocupações, suas angústias e esperanças? Ou terão razão aqueles, entre seus críticos, que afirmam que Martin Heidegger se ocupa do “Ser” com tanta intensidade que sacrificou a condição humana, o ser do homem em sociedade e como pessoa?
Heidegger: Essa crítica é um grande mal-entendido! Pois a questão do Ser e o desenvolvimento dessa questão pressupõem mesmo uma interpretação do ser-aí (Dosein), quer dizer, uma determinação da essência do homem. E a ideia que está na base de meu pensamento é precisamente a de que o Ser ou o poder de manifestação do Ser precisa do homem e que, vice-versa, o homem é homem unicamente na medida em que encontra-se na abertura (Offenbarkeit) do Ser.
Por meio disso deveria ser decidida a questão de saber em que medida eu só me ocupo do Ser, esquecendo-me do homem. Não se pode pôr a questão do Ser sem pôr a da essência do homem. (trad. Antonio Abranches)