Wisser:. Há duas coisas que o Sr. sempre põe em questão e das quais sublinha o caráter problemático: a pretensão da ciência à dominação e uma maneira de conceber a técnica que só vê nela um meio útil de alcançar mais rapidamente o propósito a cada vez desejado. Precisamente em nossa época, onde a maior parte dos homens espera tudo da ciência e onde se lhe demonstra, por meio de transmissões televisivas mundiais, ou seja, extraterrestres, que o homem alcança por meio da técnica aquilo a que ele se propõe nessa época, suas ideias sobre a ciência e sobre a essência da técnica tornam-se quebra-cabeças para muitas pessoas. Em primeiro lugar, o que o Sr. entende quando afirma que a ciência não pensa?
Heidegger: Comecemos pelos quebra-cabeças: penso que eles são inteiramente salutares! O fato de que há ainda muito poucos quebra-cabeças hoje no mundo e também uma grande ausência de ideias é, precisamente, função do esquecimento do Ser. E essa sentença: a ciência não pensa, que causou tanto alvoroço quando a pronunciei no contexto de uma conferência em Freiburg, significa: a ciência não se move na dimensão da filosofia. Mas, sem o saber, ela se enraíza nessa dimensão.
Por exemplo: a física se move no espaço, no tempo e no movimento. A ciência como ciência não pode decidir o que é o movimento, o espaço, o tempo. A ciência não pensa, ela não pode mesmo pensar nesse sentido com seus métodos. Eu não posso dizer, por exemplo, com os métodos da física, o que é a física. Eu só posso pensar o que é a física na forma de uma interrogação filosófica. A sentença: a ciência não pensa, não é uma repreensão, mas uma simples constatação da estrutura interna da ciência; é próprio de sua essência que, de uma parte, ela dependa do que a filosofia pensa, mas que, de outra parte, ela esqueça e negligencie o que aí exige ser pensado.