Haugeland (2013:144) – Dasein, em seu onde e para onde

O que o dasein sempre já foi disposto e está atado a ele é ele mesmo, qua aí — sua situação fática atual no sentido mais pleno. Essa situação está repleta de seu passado e prenhe de seu possível futuro. Se você agora é um contador licenciado, por exemplo, isso se deve apenas ao fato de ter estudado contabilidade e ter sido aprovado em um exame de licenciamento. O estudo e a aprovação no exame não fazem mais parte de sua existência atual, mas tê-los feito e agora ser um contador certamente fazem. Da mesma forma, se essa licença o coloca em condições de se candidatar a determinados empregos, então a candidatura pode ou não fazer parte do seu “aí” atual, mas estar em condições de fazê-lo certamente faz. Assim, finalmente, dizer que o dasein está “atado” à sua situação atual não significa de forma alguma que ele não possa seguir em frente. Pelo contrário, significa que ele deve — e só pode — seguir em frente desde aí.[[A cópia de trabalho de Haugeland marca os quatro parágrafos anteriores com este comentário: “Eles soam como se se aplicassem apenas a pessoas individuais”. Presumivelmente, ele pretendia revisá-los para dissipar essa impressão.]

A cada momento, o dasein é o seu aí — sua situação de vida atual. E seu ser-jogado (Geworfenheit) é o fato de que ele é e tem de ser esse aí, aqui e agora (SZ 135):

Esse caráter de ser do dasein, velado em seu onde e para onde, mas em si mesmo tão desveladamente revelado, esse “que é”, chamamos de ser-jogado desse ente em seu aí — jogado, de fato, de tal forma que, como ser-no-mundo, ele é o aí. A expressão “ser-jogado” tem o objetivo de sugerir a facticidade de sua entrega. (SZ 135)

O Dasein sempre deve e só pode continuar a partir de onde quer que já esteja; não há alternativas.

Como facticamente lançado em seu aí, o dasein sempre tem algum “senso” ou “sensação” ou “apreciação” de como está se saindo ou de como a vida está indo para ele. Esse “senso”, como já foi observado, é chamado de findingness (Befindlichkeit) e (juntamente com a compreensão e a fala) é um dos três momentos constitutivos do desvelamento (Erschlossenheit).

[HAUGELAND, John. Dasein disclosed: John Haugeland’s Heidegger. Cambridge, Mass: Harvard University Press, 2013]