A finitude temporal também é indicada na estrutura das decisões éticas, em que a abertura do futuro ganha forma por meio do presente em meio ao passado. As decisões éticas são mais um processo criativo em comparação com outros tipos de pensamento e ação. Ao decidir o que fazer eticamente, formo um cenário a partir de possibilidades, um cenário que permanece permeado por possibilidades e incertezas. Se eu decidir contar a verdade a um amigo sobre um assunto delicado, coloco em movimento um curso de eventos que, de outra forma, não aconteceria e que é marcado por resultados incertos. Esse elemento criativo é o que distingue os “atos” éticos dos “efeitos” causais ou das inferências baseadas em fatos. Essa abertura temporal é responsável pelo estresse existencial que muitas vezes acompanha as decisões éticas, devido às tensões, limites, complexidades e incertezas percebidas associadas às situações morais. A ação ética é mais uma tarefa do que um “evento”, e é fundamentalmente diferente de algumas outras sequências de experiência e pensamento. É aqui que a associação perene da ação ética com a liberdade recebe uma orientação existencial. A liberdade não é apenas aparentemente intrínseca à responsabilidade moral, ela é fenomenologicamente evidente na experiência inquieta e perturbadora do desempenho moral.
(HATAB, Lawrence. Ethics and Finitude: heideggerian contribution to moral philosophy. New York: Rowman ; Littlefield Publishers, 2000)