História universal, história do mundo — não são, na verdade, sumidades conceituais de natureza formal, nas quais se intenta o todo do acontecer, mas, no pensamento histórico, o universo, enquanto criação divina, é elevado à consciência de si mesmo. Evidentemente que não se trata de uma consciência conceitual: o resultado último da ciência histórica é “sim-patia, co-ciência do todo”. Sobre este pano de fundo panteísta compreende-se bem a famosa frase de Ranke, segundo a qual ele mesmo desejaria acabar apagando-se. Obviamente que este auto-apagamento, como objeta Dilthey, representa a ampliação do eu (Selbst) a um universo interior. Todavia, não é por acaso que Ranke não completa essa reflexão, a qual leva Dilthey à sua fundamentação psicológica das ciências do espírito. Para Ranke, o auto-apagamento continua sendo uma forma de participação real. O conceito da participação não deve ser entendido como psicológico-subjetivo, mas tem de ser concebido a partir do conceito da vida que lhe é subjacente. Porque todos os fenômenos históricos são manifestações do todo da vida, participar deles é participar da vida. VERDADE E MÉTODO SEGUNDA PARTE 1.
A essa imagem da história corresponde também a posição do conhecimento histórico. Também esse não pode ser compreendido como o fez Ranke, como um auto-esquecimento estético e um auto-apagamento à maneira da grande poesia épica. O traço panteísta de Ranke propiciou aqui a pretensão de uma participação ao mesmo tempo universal e imediata, de uma “co-ciência” do todo. Ao contrário, Droysen pensa as mediações em que a compreensão se movimenta. Os poderes morais não são somente a autêntica realidade da história a que se eleva o indivíduo quando atua. Eles são ao mesmo tempo aquilo a que, também aquele que pergunta e investiga historicamente se eleva para além de sua própria particularidade. O historiador está determinado e limitado por pertencer a determinadas esferas morais, como a sua pátria, as suas convicções políticas e religiosas. Todavia, sua participação repousa precisamente sobre essa unilateralidade inamovível. Sob as condições concretas de sua existência histórica própria — e não flutuando por sobre as coisas — a justiça se coloca como a sua tarefa. “Sua justiça é o fato de que ele tenta compreender” (§ 91). VERDADE E MÉTODO SEGUNDA PARTE 1.