frei

Freie, livre, libre, free

Todo e qualquer conceito de liberdade tem, em verdade, implicações ontológicas, por meio das quais se determina previamente de que maneira são respondidas as perguntas que cada concepção de liberdade tem de responder. Por isso, somente mediante uma alteração das suposições ontológicas fundamentais pode-se mesmo alcançar um novo conceito de liberdade. Esse estado de coisas torna-se um pouco mais distinto se alcançamos inicialmente uma clareza quanto ao tipo de perguntas que uma concepção de liberdade tem de responder. Podemos dizer genericamente que essas perguntas concernem à significação do termo “livre”. Esse termo pode ser usado como adjetivo ou como advérbio e serve, na linguagem cotidiana, para a caracterização tanto de pessoas quanto de modos de comportamento. Assim, uma concepção de liberdade não deve apenas esclarecer o que se tem em vista propriamente quando designamos uma pessoa ou um modo de comportamento como “livre”: ela também tem (24) de esclarecer como se relacionam essas duas possibilidades de caracterização uma diante da outra. Desse modo, podemos ser da opinião de que uma pessoa só pode ser chamada de “livre” na medida em que se comporta de uma maneira que pode ser caracterizada pelo predicado “livre” ou ao menos está em condições de fazê-lo. Ou então afirmamos que modos de comportamento só podem ser denominados “livres” se eles são os modos de comportamento de pessoas que precisam ser caracterizadas como tais pelo predicado “livre”. Se se defende a segunda tese mencionada, então se tem de elucidar o que significa o fato de pessoas como tais precisarem ser caracterizadas pelo predicado “livre”. O termo “livre” é, além disso, uma palavra de contraste; ou seja: só se pode empregar o termo “livre” de maneira significativa se também se tem uma compreensão ao menos vaga do termo “não livre”. Por isso, toda concepção de liberdade é ao mesmo tempo uma concepção da não-liberdade. Nas duas possibilidades de concepção da liberdade citadas, a explicitação da significação de “não livre” diferencia-se essencialmente. Se se compreende o predicado “livre” em primeira linha como um predicado comportamental, então é suficiente fornecer um critério segundo o qual se apresenta sob que circunstâncias se deve falar de um comportamento livre e sob que circunstâncias se deve falar de um comportamento não-livre. Se, ao contrário, se compreendem as pessoas essencialmente como livres, então é preciso levar em conta, além disso, a circunstância de que as pessoas nem sempre se comportam de maneira livre sem que a razão para isso esteja nas circunstâncias de seu comportamento. Por conseguinte, em sua liberdade essencial, as pessoas também são no mínimo possivelmente não livres, de modo que é necessária uma resposta à pergunta sobre como se relacionam aqui uma com a outra liberdade e não-liberdade e como as pessoas se comportam em sua liberdade e em sua não-liberdade.1 (FIGAL, Günter. Martin Heidegger: Fenomenologia da Liberdade. Tr. Marco Antonio Casanova. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 23-24)


A essência da liberdade (Freiheit) não pertence originariamente à vontade (Willen) e nem tampouco se reduz à causalidade do querer humano.

A liberdade rege o aberto (Freie), no sentido do aclarado (Gelichteten), isto é, do des-encoberto (Entborgen). A liberdade tem seu parentesco mais próximo e mais íntimo com o dar-se do desencobrimento (Geschehnis des Entbergens), ou seja, da verdade. Todo desencobrimento pertence a um abrigar e esconder (Bergen und Verbergen). Ora, o que liberta é o mistério, um encoberto que sempre se encobre, mesmo quando se desencobre. Todo desencobrimento provém do que é livre (Freie), dirige-se ao que é livre e conduz ao que é livre. A liberdade do livre não está na licença do arbitrário nem na submissão a simples leis. A liberdade é o que aclarando encobre e cobre, em cuja clareira (Lichtung) tremula o véu que vela o vigor de toda verdade e faz aparecer o véu como o véu que vela. A liberdade é o reino do destino (Bereich des Geschickes) que põe o desencobrimento em seu próprio caminho. (GA7CFS:28)


VIDE: (frei->http://hyperlexikon.hyperlogos.info/modules/lexikon/search.php?option=1&term=frei)

Todo e qualquer conceito de liberdade (Freiheit) tem, em verdade, implicações ontológicas, por meio das quais se determina previamente de que maneira são respondidas as perguntas que cada concepção de liberdade (Freiheit) tem de responder. Por isso, somente mediante uma alteração das suposições ontológicas fundamentais pode-se mesmo alcançar um novo conceito de liberdade (Freiheit). Esse estado de coisas torna-se um pouco mais distinto se alcançamos inicialmente uma clareza quanto ao tipo de perguntas que uma concepção de liberdade (Freiheit) tem de responder. Podemos dizer genericamente que essas perguntas concernem à significação do termo “livre” (frei). Esse termo pode ser usado como adjetivo ou como advérbio e serve, na linguagem cotidiana, para a caracterização tanto de pessoas (Person) quanto de modos de comportamento (Verhalten). Assim, uma concepção de liberdade (Freiheit) não deve apenas esclarecer o que se tem em vista propriamente quando designamos uma pessoa ou um modo de comportamento (Verhalten) como “livre” (frei): ela também tem (24) de esclarecer como se relacionam essas duas possibilidades de caracterização uma diante da outra. Desse modo, podemos ser da opinião de que uma pessoa (Person) só pode ser chamada de “livre” (frei) na medida em que se comporta de uma maneira que pode ser caracterizada pelo predicado “livre” (frei) ou ao menos está em condições de fazê-lo. Ou então afirmamos que modos de comportamento (Verhalten) só podem ser denominados “livres” se eles são os modos de comportamento (Verhalten) de pessoas que precisam ser caracterizadas como tais pelo predicado “livre” (frei). Se se defende a segunda tese mencionada, então se tem de elucidar o que significa o fato de pessoas como tais precisarem ser caracterizadas pelo predicado “livre” (frei). O termo “livre” (frei) é, além disso, uma palavra de contraste; ou seja: só se pode empregar o termo “livre” (frei) de maneira significativa se também se tem uma compreensão ao menos vaga do termo “não livre” (unfrei). Por isso, toda concepção de liberdade (Freiheit) é ao mesmo tempo (Zeit) uma concepção da não-liberdade (Unfreiheit). Nas duas possibilidades de concepção da liberdade (Freiheit) citadas, a explicitação da significação de “não livre” (unfrei) diferencia-se essencialmente. Se se compreende o predicado “livre” (frei) em primeira linha como um predicado comportamental, então é suficiente fornecer um critério segundo o qual se apresenta sob que circunstâncias se deve falar de um comportamento (Verhalten) livre e sob que circunstâncias se deve falar de um comportamento (Verhalten) não-livre. Se, ao contrário, se compreendem as pessoas essencialmente como livres, então é preciso levar em conta, além disso, a circunstância de que as pessoas nem sempre se comportam de maneira livre sem que a razão para isso esteja nas circunstâncias de seu comportamento (Verhalten). Por conseguinte, em sua liberdade (Freiheit) essencial, as pessoas também são no mínimo possivelmente não livres, de modo que é necessária uma resposta à pergunta sobre como se relacionam aqui uma com a outra liberdade (Freiheit) e não-liberdade (Unfreiheit) e como as pessoas se comportam em sua liberdade (Freiheit) e em sua não-liberdade (Unfreiheit). (As duas posições esboçadas não equivalem às concepções de liberdade (Freiheit) elaboradas no interior da tradição filosófica. Em princípio, porém, à primeira posição corresponde a teoria aristotélica da liberdade (Freiheit), e, à segunda, a teoria kantiana.) (FigalFL:23-24



  1. As duas posições esboçadas não equivalem às concepções de liberdade elaboradas no interior da tradição filosófica. Em princípio, porém, à primeira posição corresponde a teoria aristotélica da liberdade, e, à segunda, a teoria kantiana.