O real, a coisa, toda e qualquer, o que é, como é? É algo em si? É subjetivo? É objetivo? Ou intersubjetivo? Ou algo dialeticamente subjetivo-objetivo e objetivo-subjetivo? Este modo de perguntar (subjetivo e (+) ou versus objetivo) é bom, isto é, vai ao encontro da questão? Que tipo de pré-conceito ou de pré-compreensão já está aí? Bem, deixemos isso de lado, mas insistamos com a pergunta: o que é, como é coisa, real, todo e qualquer?
Numa anotação de Nietzsche, lê-se: “Uma coisa em si é algo tão absurdo quanto um sentido em si, um significado em si. Não há nenhum fato em si, mas antes um sentido há de sempre ser primeiramente introduzido para que possa haver um fato ” (Cf. NIETZSCHE, F. KGW, VIII-1, 2(149), p.138 ou Vontade de Poder. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008, p. 290, nr. 556.).
Aqui, agora, tenho diante de mim uma pedra – ou um texto de Nietzsche. Como esta pedra é esta pedra, como este texto é este texto? Parece-me evidente, óbvio, que a pedra é pedra – está aí, é! – e o texto é texto, pois igualmente é, está aí! Mas o texto, a passagem de Nietzsche, diz: sim, assim é. No entanto, para que esta pedra seja esta pedra e para que texto de Nietzsche, seja este texto de Nietzsche, um sentido precisa, antes, já ter se introduzido ou se interposto. Ou seja, o sentido, a saber, o que faz da pedra pedra ou o que possibilita que à pedra eu me atenha como esta pedra (ou ao texto como este texto) – isto já se introduziu ou se intrometeu (hineingelegt). Este sentido é, sim, um intrometido!
(FOGEL, Gilvan. Homem, Realidade, Interpretação. Rio de Janeiro: Mauad X, 2015, p. 191-192)