Quando nos aproximamos de algo diverso, acontece uma transposição: algo diverso, alheio, é transportado de lá para cá, é transformado em algo próprio e aí reconhecido. O processo, tal como a palavra o indica, é determinado por meio de intervalo e distanciamento; algo está em um lugar diverso daquele em que nós mesmos estamos e, então, nós o trazemos para cá. Isso não é a mesma coisa que a rápida abordagem e também poderia significar que nem todas as apropriações são também transposições. Transposições são apropriações de um tipo particular; de que tipo, isso é algo que precisamos clarificar.
Além disso, dever-se-ia distinguir entre transposição e interpretação. Transpor, transferre, μεταφέρειν, é uma palavra diferente de interpretar, interpretari, mesmo de ἑρμηνεύειν, ou seja, possivelmente, até que se prove contrário, eles tampouco designam a mesma coisa. O interpretar poderia ser uma transposição de um tipo particular. A exatidão não se transforma, por isso, em uma questão apenas de terminologia; somente se os conceitos são clarificados em sua relação material e objetiva mútua, algo também é concebido com eles.
(FIGAL, Günter. Oposicionalidade: o elemento hermenêutico e a filosofia. Marco Antonio Casanova. Petrópolis: Editora Vozes, 2007)