É a partir de uma experiência do divino que devemos alçar-nos a uma experiência idônea do Ser. Seguindo as insinuações dessa experiência veremos, em primeira linha, que o fundo oculto da realidade não é uma substância inerte ou indiferente, ou uma Ideia, mas sim uma inexaurível Fonte de Atrações, uma instância mágico-transcendente que suscita o soerguer-se do ente enquanto configuração fascinada. O Ser é o Sugestor, o Fascinator, aquilo cuja manifestação ou fulguração se dá como polo pulsional erótico e que traça ou des-vela as coisas ao fasciná-las. Eis por que Heidegger relaciona a proximidade do Ser com a experiência do estranho, do espantoso (Ungeheure), desde que essa experiência nos remete ao Poder selvagem e incalculável que comanda a instrução dos mundos. A compreensão do Ser, como essência fundante, acompanha a experiência desse mesmo Ser, como propensão abismal além do já fundado, como luta de princípios na sequência do divino. O apelo do sagrado faz-nos romper com as possibilidades dadas, com o ente assegurado, através do vir a nós de novas possibilidades e do sortilégio de uma singular epifania. Inicialmente, entretanto, esse chamado se manifesta unicamente como inquietação do espírito, como vertigem do abismo que ainda não irrompeu num novo meio-dia do sagrado. O “ser fascinado” além do já dado é a experiência da experiência da essência trópico-fascinante do Ser. O domínio do Ser é um Poder Passional, um foco de propensões e de parcialidades, e não um domínio isento e equilibrado. Eis por que a experiência do Ser é uma experiência de arrebatamento e de sugestão. (FERREIRA DA SILVA, Vicente. Transcendência do Mundo. São Paulo: É Realizações, 2010, p. 103-104)
Ferreira da Silva (2010:103-104) – experiência idônea do ser
- Ferreira da Silva (2010:179-181) – linguagem
- Ferreira da Silva (2010:181-182) — liberdade
- Ferreira da Silva (2010:222-223) — mundo como um todo
- Ferreira da Silva (2010:223-225) – origem do mundo
- Ferreira da Silva (2010:227-230) — apocalipse
- Ferreira da Silva (2010:234-236) — ser-com, ser-em-relação-ao-outro, ser-com-o-outro
- Ferreira da Silva (2010:236-238) — “no princípio era a Palavra…” (?)
- Ferreira da Silva (2010:238-239) — as relações inter-humanas
- Ferreira da Silva (2010:412-413) – esquecimento do ser (Seinsvergessenheit)
- Ferreira da Silva (2010:462-465) – o nivelamento