O demoníaco é a escravidão que se quer a si mesma, é o horror à liberdade, a crispação contra todas as potências que podem retirar o homem de seu abismo. O demoníaco é uma espécie de ontofobia que se expressa através dos mais variados sintomas, todos concordantes, entretanto, em impedir que se estabeleça outra vez o contato salvador com a possibilidade. Refugiando-se no limite de sua determinação e opondo a oclusão de sua finitude contra as potências distensivas da liberdade, o demoníaco é a liberdade que se conjura contra si mesma, e que se manifesta, aniquilando-se. “Sou assim, deixa-me em paz”, é o argumento do endemoninhado.
(FERREIRA DA SILVA, Vicente. Dialética das Consciências. São Paulo: É Realizações, 2009)