extraordinário

Quando o pensador diz: kai entautha (“mesmo aqui”) en toi ipnoi (“junto ao forno”) vigora o extraordinário, quer dizer, na verdade: só aqui há vigência dos deuses. Onde realmente? No inaparente do cotidiano. Não é preciso evitar o conhecido e o ordinário e perseguir o extravagante, o excitante e o estimulante na esperança ilusória de, assim, encontrar o extraordinário. Vocês devem simplesmente permanecer em seu cotidiano e ordinário, como eu aqui, que me abrigo e aqueço junto ao fomo. Não será isso que faço, e esse lugar em que me aconchego, já suficientemente rico em sinais? O forno presenteia o pão. Como pode o homem viver sem a dádiva do pão? Essa dádiva do forno é o sinal indicador do que são os theoi, os deuses. São os daiontes os que se oferecem como extraordinário na intimidade do ordinário. Aqueço-me ao forno permanecendo, assim, na proximidade do fogo – em grego pur -, que também significa luz e ardor. Vocês me encontram aqui numa relação com o fogo, somente onde é possível que o raio luminoso do olhar compenetrado esteja em unidade com o raio do calor, permitindo que “desperte” para oo aparecimento aquilo que no frio seria, ao contrário, vítima da rigidez do não-ser. [GA5 24]