Mesmo aqui, porém, como em um exercício preparatório, precisamos tentar aquele dizer pensante da filosofia que advém de um outro início. Quanto a ele vale o seguinte: esse dizer nem descreve nem explica, nem anuncia nem instrui; não se tem aqui o dizer ante o que tem para ser dito, mas o dizer é ele mesmo como a ESSENCIAÇÃO do seer. Esse dizer reúne o seer em uma primeira ressonância de sua essência e só soa mesmo a partir dessa essência. [tr. Casanova; GA65: 1]
O outro início do pensamento é assim denominado não porque possua uma forma diversa da que possuia qualquer outra filosofia até aqui, mas porque precisa ser o unicamente outro a partir da ligação com o início unicamente uno e primeiro. A partir dessa articulação mútua de um início com o outro já está também determinado o modo da meditação pensante característico da transição. O pensamento inserido na transição empreende o projeto fundante da verdade do seer como uma meditação histórica. A história não é aí o objeto e a circunscrição de uma consideração, mas aquilo que o questionar pensante primeiramente desperta e obtém como o sítio de suas decisões. O pensamento no interior da transição coloca o primeiro movimento de ESSENCIAÇÃO do seer da verdade e o porvir mais extremo da verdade do seer em discussão e dá voz, em meio a essa discussão, à essência até aqui inquestionada do seer. No saber do pensamento inserido na transição, o primeiro início permanece decisivo como primeiro e é, entretanto, superado como início. Para esse pensamento, a reverência mais clara em relação ao primeiro início, que abre, além disso, pela primeira vez, o seu caráter único, precisa caminhar lado a lado com a ausência de um olhar para trás – uma ausência inerente à virada de outro questionar e dizer. [tr. Casanova; GA65: 1]
Por vezes, aqueles fundadores do abismo precisam ser consumidos no fogo do que se guarda, para que o ser-aí venha a ser possível para o homem e, assim, seja salva a constância em meio ao ente, para que o ente mesmo experimente a restauração no aberto da contenda entre terra e mundo. Consequentemente, o ente é voltado para o interior de sua constância por meio do ocaso dos fundadores da verdade do seer. Tal movimento é exigido pelo próprio seer mesmo. Ele precisa dos que experimentam o ocaso; e, onde quer que um ente apareça, o seer já sempre se a-propriou desses fundadores que perecem em meio ao acontecimento, já sempre os atribuiu a si mesmo. Essa é a ESSENCIAÇÃO do seer mesmo: nós a denominamos o acontecimento apropriador. A riqueza da ligação volteante do seer com o ser-aí que lhe é entregue apropriadoramente é imensurável. A plenitude do acontecimento da apropriação é incalculável. E somente algo muito diminuto pode ser dito aqui “sobre o acontecimento apropriador” nesse pensar inicial. O que é dito é questionado e pensado em uma “conexão de jogo” do primeiro e do outro início a partir da “ressonância” do seer; ele é questionado e pensado em meio à indigência do abandono do ser para o “salto” em direção ao interior do seer. Esse “salto” tem por fim promover a “fundação” da verdade do seer como a preparação dos “que estão por vir” e “do último deus”. Esse dizer pensante é uma diretiva. Essa diretiva indica o livre abrigo da verdade do seer em meio ao ente como algo necessário, sem ser, contudo, uma ordem. Tal pensamento jamais pode ser transformado em uma doutrina: ele se subtrai completamente ao acaso da opinião. Além do mais, ele só dá uma diretiva aos poucos e ao seu saber, quando o que importa é o resgate dos homens da barafunda do não-ente, lançando-os para o interior da maleabilidade à junção característica de uma criação reservada dos sítios que são determinados para o passar ao largo do último deus. Mas se o acontecimento apropriador perfaz a ESSENCIAÇÃO do seer, o quão perto está, então, o perigo de que ele recuse e precise recusar o acontecimento da apropriação porque o homem perdeu a força para o ser-aí, uma vez que a violência desencadeada do desvario em meio ao gigantesco o dominou sob a aparência da “magnitude”. No entanto, se o acontecimento apropriador se tornar recusa e denegação, isso significa apenas a retração do seer e o abandono do ente ao não-ente? Ou será que a denegação (o caráter de não do seer) pode se tornar no mais extremo o mais distante acontecimento da apropriação, posto que o homem conceba esse acontecimento apropriador e o horror do pudor o recoloque na tonalidade afetiva fundamental da retenção e, com isto, já o exponha para o ser-aí? [tr. Casanova; GA65: 2]
Ninguém compreende o que “eu” penso aqui: deixar o ser-aí eclodir a partir da verdade do seer (e isso significa a partir da ESSENCIAÇÃO da verdade), para fundar aí o ente na totalidade e enquanto tal; e, em meio à sua fundação, o homem. [tr. Casanova; GA65: 2]
Para os poucos que de tempos em tempos perguntam uma vez mais, isto é, que colocam em decisão de maneira renovada a essência da verdade. Para os raros, que trazem consigo a mais elevada coragem para a solidão, a fim de pensar a nobreza do seer e falar de sua unicidade. O pensar no outro início é originariamente histórico de uma maneira única: o dispor autoconjuntivo sobre a ESSENCIAÇÃO do seer. Um projeto da ESSENCIAÇÃO do seer como o acontecimento apropriador precisa ser ousado porque não conhecemos a missão de nossa história. Que possamos experimentar de um modo fundamental a ESSENCIAÇÃO desse desconhecido em seu ocultar-se. Precisamos querer, porém, desdobrar esse saber, segundo o qual o desconhecido que nos é dado como tarefa deixa a vontade na solidão e, assim, obriga a existência do ser-aí à mais elevada retenção em relação ao que se oculta. [tr. Casanova; GA65: 5]
A verdade do seer só se torna necessidade por meio daqueles que perguntam. Eles são os crentes propriamente ditos, porque eles se mantêm – abrindo a essência da verdade – sobre o solo. Os que perguntam – solitários e sem os artifícios de um encantamento – estabelecem a nova e suprema posição hierárquica da insistência no meio do seer, na ESSENCIAÇÃO do ser (acontecimento apropriador) como o meio. Os que questionam rejeitaram toda curiosidade, toda avidez pelo novo; sua busca ama o abismo, no qual eles sabem o mais antigo fundamento. [tr. Casanova; GA65: 5]
Se algum dia uma história nos for ainda uma vez comunicada, a exposição criadora ao ente a partir do pertencimento ao ser, então é indispensável a determinação: preparar o tempo-espaço da última decisão – se e como nós experimentamos e fundamos esse pertencimento. Nisso reside: de maneira pensante fundar o saber do acontecimento apropriador, por meio da fundação da essência da verdade enquanto ser-aí. Como quer que a decisão sobre a historicidade e a falta de historicidade possa vir a ser tomada, os questionadores, que preparam de maneira pensante a decisão, precisam ser, cada um porta a solidão para o interior de sua maior hora. Que dizer realiza o mais elevado silenciamento pensante? Que procedimento efetua mais prontamente a meditação sobre o seer? O dizer da verdade; pois ele é o entre para a ESSENCIAÇÃO do seer e a entidade do ente. Esse entre funda a entidade do ente no seer. O seer, porém, não é algo “anterior” – subsistindo por si, em si –, mas o acontecimento apropriador é a coetaneidade tempo-espacial para o seer e o ente. [tr. Casanova; GA65: 5]
A tonalidade afetiva fundamental do pensar no outro início oscila nas tonalidades afetivas, que à distância só se deixam nomear como o espanto – a retenção – o pressentimento – o pudor. A ligação interna entre elas só é experimentada em meio ao pensar integral das junções particulares, nas quais a fundação da verdade do seer e da ESSENCIAÇÃO da verdade precisa juntar. Para a unidade dessas tonalidades afetivas falta a palavra, e, contudo, seria necessário encontrar a palavra, a fim de evitar a fácil incompreensão em jogo em se supor que tudo estivesse colocado aqui em função de uma fraqueza covarde. É assim que o “heroísmo” barulhento deve julgar. [tr. Casanova; GA65: 5]
A retenção, a tonalidade afetiva prévia da prontidão para a recusa como doação. Na retenção vigora, sem afastar nenhuma viagem de volta, o dirigir-se para o privar-se hesitante como a ESSENCIAÇÃO do seer. A retenção é o meio para o espanto e o pudor. Esses caracterizam apenas de maneira mais expressa aquilo que onginariamente lhe pertence. Ela determina o estilo do pensar inicial no outro início. [tr. Casanova; GA65: 5]
Até que ponto o deus se encontra afastado de nós, aquele que nos nomeia fundadores e criadores, porque sua essência precisa de tais homens? Ele está tão afastado que nós não conseguimos decidir, se ele se movimenta em nossa direção ou se ele está se distanciando de nós. E repensar plenamente essa distância mesma em sua ESSENCIAÇÃO como o tempo-espaço da suprema decisão significa questionar acerca da verdade do seer, acerca do próprio acontecimento apropriador, do qual toda história futura provém, se é que ainda haverá história. Essa distância da indecidibilidade do mais externo e do primeiro é o iluminado para o encobrir-se, é a ESSENCIAÇÃO da própria verdade como a verdade do seer. Pois o que se encobre dessa clareira, a distância da indecidibilidade, não é nenhum mero vazio presente à vista e indiferente, mas a ESSENCIAÇÃO mesma do acontecimento apropriador como essência do acontecimento apropriador, como essência da renúncia hesitante, que se apropria do ser-aí em meio ao acontecimento como já copertinente, o deter-se do instante e dos sítios da primeira decisão. [tr. Casanova; GA65: 7]
Na essência da verdade do acontecimento apropriador decide-se e funda-se ao mesmo tempo todo verdadeiro, o ente se faz ente, o não ente desliza para o interior da aparência do seer. Essa distância é, sobretudo: a mais ampla e para nós primeira proximidade com deus, mas também a indigência do abandono do ser, encoberto pela ausência de indigência, que se atesta por meio do desvio em relação à meditação. Na ESSENCIAÇÃO da verdade do seer, no acontecimento apropriador e como acontecimento apropriador, encobre-se o último deus. [tr. Casanova; GA65: 7]
A longa cristianização de deus e a crescente publicização de toda e qualquer ligação afinada com o ente soterraram de maneira igualmente tenaz e velada as condições prévias, graças às quais algo se encontra na distância da indecidibilidade sobre a fuga ou a chegada do deus, indecidibilidade essa cuja ESSENCIAÇÃO, todavia, é experimentada da maneira mais íntima possível; e isso por um saber, naturalmente, que só se encontra na verdade como algo criador. Criar – no sentido mais amplo aqui visado – significa todo abrigo da verdade no ente. [tr. Casanova; GA65: 7]
A distância da indecidibilidade não é naturalmente algo “para além de”, mas o mais próximo do aí infundado do ser-aí, que se tornou insistente na prontidão para a recusa enquanto a ESSENCIAÇÃO do seer. Esse mais próximo é tão próximo que todo exercício inevitável da maquinação e do vivenciado precisa ter já necessariamente passado ao largo dele e, por isto, também nunca pode ser resgatado imediatamente para ele. O acontecimento apropriador permanece o que há de mais estranho. [tr. Casanova; GA65: 7]
O seer se essencia como acontecimento apropriador. A ESSENCIAÇÃO tem o meio e a amplitude na viragem. A exportação resolutora de contenda e réplica. A ESSENCIAÇÃO é garantida e abrigada na verdade. A verdade acontece como o encobrimento clareador. A estrutura fundamental desse acontecimento é o tempo-espaço que emerge dele. O tempo-espaço é o que desponta para as mensurações da abertura do fosso abissal do seer. O tempo-espaço é, enquanto junção da verdade, originariamente o sítio instantâneo do acontecimento apropriador. O sítio instantâneo essencia-se a partir desse acontecimento como a contenda de terra e mundo. A contestação da contenda é o ser-aí. O ser-aí acontece nos modos do abrigo da verdade a partir da garantia do acontecimento apropriador clareado e velado. O abrigo da verdade deixa que o verdadeiro se abra e se dissimule como o ente. O ente se encontra pela primeira vez assim no seer. O ente é. O seer se essencia. O seer (como acontecimento apropriador) precisa do ente, para que ele, o seer, se essencie. O ente pode “ser” ainda no abandono do ser, sob cujo domínio a tangibilidade e a utilidade imediata, assim como a funcionalidade de todo e qualquer tipo (tudo precisa servir ao povo, por exemplo) constituem obviamente o que é sendo e o que não é. A autonomia aparente do ente em face do seer, como se este fosse apenas um suplemento do pensamento “abstrato” representacional, porém, não é nenhum primado, mas apenas o sinal do privilégio em relação à decadência que cega. Esse ente “real e efetivo” é concebido a partir da verdade do seer como o não-ente sob o domínio da inessência da aparência, cuja origem permanece aí encoberta. O ser-aí como a fundação da contestação da contenda em meio ao que é aberto por ela é cristalizado humanamente e sustentado na insistência que suporta o aí e que pertence ao acontecimento apropriador. O pensar do seer como acontecimento apropriador é o pensar inicial, que prepara como confrontação com o primeiro início o outro início. O primeiro início pensa o seer como presentidade a partir da presentação, que apresenta o primeiro reluzir de uma ESSENCIAÇÃO do seer. [tr. Casanova; GA65: 10]
1) Acontecimento apropriador: a luz segura da ESSENCIAÇÃO do seer no campo de visão extremo da mais íntima indigência do homem histórico. 2) O ser-aí: o entre aberto no meio e, assim, velador, entre a chegada e a fuga dos deuses e o homem nele enraizado. 3) O ser-aí tem a origem no acontecimento apropriador e em sua viragem. 4) Por isto, ele só pode ser fundado como a verdade e na verdade do seer. 5) A fundação – não recriação – é um deixar-ser-fundamento por parte do homem, que chega, com isto, pela primeira vez, uma vez mais a si e reconquista o ser-si-mesmo. 6) O fundamento fundado é ao mesmo tempo abismo para a abertura do fosso abissal do seer e não fundamento para o abandono do ser do ente. 7) A tonalidade afetiva fundamental da fundação é a retenção. 8) A retenção é a referência insigne, instantânea ao acontecimento apropriador no ser chamado por meio de seu conclamar. 9) O ser-aí é o acontecimento fundamental da história por vir. Esse acontecimento emerge do acontecimento apropriador e se torna um sítio instantâneo possível para a decisão sobre o homem – sua história ou não história como sua transição para o ocaso. 10) O acontecimento apropriador e o ser-aí estão em sua essência, isto é, em sua pertinência enquanto fundamento da história, ainda completamente velados e permanecerão por um longo tempo causando estranhamento. Faltam as pontes; os saltos ainda não foram levados a termo. Ainda permanece de fora a profundidade da experiência da verdade que lhes satisfazem e a meditação sobre o seu sentido: a força da decisão elevada. Em contrapartida, numerosas no caminho são apenas as ocasiões e os meios da má interpretação, porque falta mesmo o saber daquilo que aconteceu no primeiro início. [tr. Casanova; GA65: 11]
História aqui não concebida como um âmbito do ente entre outros, mas unicamente com vistas à ESSENCIAÇÃO do seer mesmo. Assim, já em Ser e tempo, a historicidade do ser-aí precisa ser compreendida a partir da intenção ontológico-fundamental e não como uma contribuição para a filosofia da história presente à vista. [tr. Casanova; GA65: 12]
O acontecimento apropriador é a própria história originária, com o que poderia estar insinuado que aqui em geral a essência do seer é concebida “historicamente”. A questão é: historicamente com certeza, mas não se valendo de um conceito de história, senão historicamente porque agora a essência do seer não significa apenas a presentidade, mas a plena ESSENCIAÇÃO do a-bismo tempo-espacial e, com isto, da verdade. Juntamente com isto, vem à tona o saber em torno da unicidade do seer. Por meio daí, contudo, não é preterida, por exemplo, a natureza, mas essa é do mesmo modo originariamente transformada. Neste conceito originário de história, conquista-se pela primeira vez o âmbito, no qual se mostra por que e como a história é “mais” do que ação e vontade. Também o “destino” pertence à história e não esgota sua essência. [tr. Casanova; GA65: 12]
O caminho para a essência da história, concebido a partir da ESSENCIAÇÃO do próprio seer, é preparado “ontológico-fundamentalmente” por meio da fundação da historicidade sobre a temporalidade. Quer dizer, no sentido da “questão do ser” que é a única a se mostrar como diretriz em Ser e tempo: o tempo como o tempo-espaço recolhe em si a essência da história; na medida, porém, em que o tempo-espaço é o abismo do fundamento, isto é, da verdade do ser, reside em sua interpretação da historicidade a referencialidade para a essência do próprio ser. Perguntar sobre essa essência é o único empenho e não é nem uma teoria da história, nem uma filosofia da história. [tr. Casanova; GA65: 12]
O que é, portanto, o início, de tal modo que ele pode se tornar o mais elevado de todo ente? Ele é a ESSENCIAÇÃO do próprio ser. Mas esse início só é realizável como o outro na confrontação com o primeiro. O início – compreendido inicialmente – é o próprio seer. E, de acordo com ele, o pensar também é mais originário do que um re-presentar e um julgar. [tr. Casanova; GA65: 23]
O outro início precisa ser provocado completamente a partir do seer como acontecimento apropriador e a partir da ESSENCIAÇÃO de sua verdade e de sua história. O pensar inicial desloca seu questionamento acerca da verdade do seer para um ponto muito lá atrás no primeiro início como a origem da filosofia. Com isto, ele cria para si a garantia para chegar em seu outro início vindo de muito longe e para encontrar na herança dominada a sua mais elevada constância futura e, com isto, para retornar a si mesmo em uma necessidade modificada (em face do primeiro início). [tr. Casanova; GA65: 23]
Onde, em contrapartida, o seer é concebido como acontecimento apropriador, determina-se a essencialidade a partir da originariedade e unicidade do próprio seer. A essência não é o universal, mas a ESSENCIAÇÃO precisamente da respectiva unicidade e do nível hierárquico do ente. [tr. Casanova; GA65: 29]
A questão da essência contém em si o decisivo, que domina agora fundamentalmente a questão do ser. Projeto é estabelecimento de um nível hierárquico e decisão. O princípio do pensar inicial é, por isto, duplicado: toda essência é ESSENCIAÇÃO. Toda ESSENCIAÇÃO determina-se a partir do essencial no sentido do originariamente único. [tr. Casanova; GA65: 29]
Filosofia: encontrar e trazer à tona as faces simples e as figuras autóctones, nas quais a ESSENCIAÇÃO do seer é abrigada e elevada ao nível do coração. Quem conseguiria as duas coisas: a visão mais distante da essência velada do seer e o sucesso mais imediato da figura brilhante do ente que abriga. Como é que criamos, saltando de antemão para o interior da ESSENCIAÇÃO do seer, para o seer a afluência de seu ente, para que a verdade do seer retenha a força histórica duradoura enquanto impulso? Para o pensar resta apenas o dizer maximamente simples da imagem direta em meio ao mais puro silêncio. O primeiro pensador por vir precisa conseguir isso. [tr. Casanova; GA65: 32]
O acontecimento apropriador é o meio que comunica a si mesmo e se intermedeia, o meio de volta ao qual toda ESSENCIAÇÃO da verdade do seer precisa ser de antemão pensada. Esse pensar de volta para lá é o re-pensar do seer. E todos os conceitos do seer precisam ser falados a partir daí. [tr. Casanova; GA65: 34]
“Tempo” é em Ser e tempo a indicação e a ressonância daquilo que acontece como verdade da ESSENCIAÇÃO do seer na unicidade do acontecimento da apropriação. [tr. Casanova; GA65: 34]
Aqui pela primeira vez, nessa interpretação originária do tempo, toca-se no âmbito no qual o tempo alcança com o espaço a mais extrema diversidade e, assim, precisamente a intimidade da ESSENCIAÇÃO. Essa ligação prepara na apresentação da espacialidade do ser-aí, e não, por exemplo, do “sujeito” e do “eu”. [tr. Casanova; GA65: 34]
“O seer” não visa apenas à realidade efetiva do efetivamente real, nem tampouco apenas à possibilidade do possível, em geral não somente ao ser a partir do respectivo ente, mas ao seer a partir de sua ESSENCIAÇÃO originária na plena abertura do fosso abissal, à ESSENCIAÇÃO não restrita à “presentidade”. Naturalmente, a ESSENCIAÇÃO do seer mesmo e, com isto, o seer em sua unicidade mais única não se deixam experimentar de maneira arbitrária e direta como um ente, mas só se abrem na instantaneidade do salto prévio do ser-aí para o interior do acontecimento apropriador. Um caminho também nunca conduz imediatamente do ser do ente para o seer, porque a visão para o ser do ente já acontece fora da instantaneidade do ser-aí. A partir daqui, é possível trazer para o interior da questão do ser uma distinção e uma clarificação essenciais. Ela não é nunca a resposta da questão do ser, mas apenas a conformação do questionar, o despertar e a clarificação da força questionadora para essa questão, que só emerge sempre e a cada vez da indigência e do desenvolvimento do ser-aí. [tr. Casanova; GA65: 34]
Em contrapartida, se perguntarmos sobre o seer, então o ponto de partida não se dará aqui a partir do ente, isto é, a partir a cada vez desse ou daquele ente, também não a partir do ente enquanto tal na totalidade, mas realizará o salto para o interior da verdade (clareira e encobrimento) do seer mesmo. Aqui se experimenta e se inquire ao mesmo tempo esse elemento que de antemão se essencia (e que reside abscondito mesmo na questão diretriz), a abertura para a ESSENCIAÇÃO enquanto tal, isto é, a verdade. Aqui se questiona concomitantemente a questão prévia acerca da verdade. E, na medida em que o seer é experimentado como o fundamento do ente, a questão assim formulada acerca da ESSENCIAÇÃO do seer é a questão fundamental. Da questão diretriz para a questão fundamental nunca há um caminho contínuo imediato, dotado de um mesmo sentido, que aplique uma vez mais ainda a questão diretriz (ao seer), mas apenas um salto, isto é, a necessidade de um outro início. Com certeza, em contrapartida, por meio da superação desdobradora da formulação da questão diretriz e de suas respostas enquanto tais, precisa ser criada uma transição, que prepara o outro início e o torna em geral visível e intuível. É a essa preparação da transição que serve Ser e tempo, isto é, a obra já se encontra propriamente na questão fundamental, sem desdobrar essa questão de maneira pura a partir de si inicialmente. [tr. Casanova; GA65: 34]
Para a questão fundamental, em contrapartida, o ser não é a resposta e o âmbito da resposta, mas o que há de mais digno de questão. Para ele, vale a dignificação única e saliente, isto é, ele mesmo é aberto como domínio e, assim, elevado ao nível do aberto como o que nunca pode ser controlado. O seer como o fundamento, no qual todo ente primeiramente enquanto tal chega à sua verdade (abrigo, instituição e objetividade); o fundamento, no qual o ente mergulha (abismo), o fundamento, no qual ele também se atreve a se lançar em sua indiferença e obviedade (não fundamento). O fato de o seer se essenciar de maneira fundante em sua ESSENCIAÇÃO desse modo indica a sua unicidade e domínio. E esse domínio, por sua vez, é apenas o aceno para o acontecimento apropriador, no qual temos de buscar a ESSENCIAÇÃO do seer em seu mais extremo velamento. O seer enquanto o que há de mais digno de questão não conhece mesmo em si nenhuma questão. [tr. Casanova; GA65: 34]
O silenciamento é a legalidade sensata do silenciar (sigan). O silenciamento é a “lógica” da filosofia, na medida em que ela questiona a partir do outro início a questão fundamental. Ela busca a verdade da ESSENCIAÇÃO do seer e essa verdade é o velamento que ressoa e nos fornece um aceno (o mistério) para o acontecimento apropriador (a renúncia hesitante). [tr. Casanova; GA65: 37]
O discurso marcado pelo termo estrangeiro “sigética” na correspondência com a “lógica” (onto-logia) só é visado transitória e retrospectivamente e não aponta de maneira alguma para a busca por substituir a “lógica”. Pois uma vez que a questão acerca do seer e acerca da ESSENCIAÇÃO do seer se encontra presente, o questionamento mesmo ainda é mais originário e, por isso, não pode senão menos ainda ser enclausurado e sufocado em uma disciplina escolar. Nunca podemos dizer imediatamente o seer (acontecimento apropriador), e, desse modo, também não podemos dizê-lo mediatamente no sentido da “lógica” intensificada da dialética. Todo e qualquer dizer já fala a partir da verdade do seer e nunca pode saltar por cima de si mesmo imediatamente e aceder ao seer ele mesmo. O silenciamento tem leis mais elevadas do que toda e qualquer lógica. [tr. Casanova; GA65: 38]
Ressonância e conexão de jogo são o solo e o campo para o primeiro despontar do pensar inicial para o salto na ESSENCIAÇÃO do seer. [tr. Casanova; GA65: 39]
Ser usado pelos deuses, por meio de tal elevação ser esmagado, na direção desse velado precisamos inquirir a essência do seer enquanto tal. Nós não podemos, então, porém, explicar o seer como o aparentemente ulterior, mas precisamos concebê-lo como a origem, que de-cide e se apropria em meio ao acontecimento pela primeira vez dos deuses e do homem. Essa inquirição do seer leva a termo a abertura do campo de jogo temporal de sua ESSENCIAÇÃO: a fundação do ser-aí. [tr. Casanova; GA65: 43]
A decisão já há muito tempo irrompida no velado e no dissimulado é a decisão pela história ou pela perda da história. História, porém, concebida como a contestação da contenda de terra e mundo, assumida e realizada a partir do pertencimento ao clamor do acontecimento apropriador como a ESSENCIAÇÃO da verdade do seer na figura do último deus. [tr. Casanova; GA65: 45]
A essência da decisão só pode ser determinada a partir de sua ESSENCIAÇÃO essencial. Decisão é decisão entre ou-ou. Com isso, porém, o decisivo já é antecipado. De onde o ou-ou? De onde esse: somente esse ou apenas esse? De onde a incontornabilidade do de tal ou tal modo? Não resta o terceiro elemento, a indiferença? Mas aqui, porém, no extremo, ela não é possível. O que é aqui o extremo: ser ou não-ser e, em verdade, não o ser de um ente qualquer, por exemplo, do homem, mas ESSENCIAÇÃO do ser, ou? Por que se chega aqui ao ou-ou? A indiferença seria apenas o ser do não-ente, apenas o nada mais elevado. Pois “ser” não tem em vista aqui ao ser em si presente à vista, assim como o não-ser também não visa aqui: ao completo desaparecimento, mas não-ser como uma espécie do ser: sendo e, de qualquer modo, não como uma espécie de ser; e o mesmo vale para o ser: nulo e, de qualquer modo, precisamente sendo. Esse sendo retomado na ESSENCIAÇÃO do ser exige a intelecção do pertencimento do nada ao ser, e só assim alcança o ou-ou a sua agudeza e a sua origem. Como o seer é nulo, ele precisa para a consistência de sua verdade da subsistência do não e, com isso, ao mesmo tempo do contra tudo o que é nulo, o não-ente. A partir da nulidade essencial do ser (viragem) vem à tona o fato de que ele exige e necessita daquilo que se mostra a partir do ser-aí como ou-ou, o um ou o outro, e apenas deles. A ESSENCIAÇÃO essencial da decisão é um salto em direção à decisão ou a indiferença; ou seja, não a retração e não a destruição. A indiferença como o não-decidir. A decisão passa originariamente por saber se decisão ou não decisão. A decisão, porém, é um colocar-se diante do ou-ou, e, com isso, já é um ter sido decidido, porque aqui já se dá um pertencimento ao acontecimento apropriador. A decisão sobre a decisão (viragem). Nenhuma reflexão, mas o contrário disso: sobre a decisão, isto é, já saber o acontecimento apropriador. Decisão e questão; questão como mais originária: colocar a essência da verdade em decisão. A verdade mesma, contudo, já é o que precisa ser decidido enquanto tal. [tr. Casanova; GA65: 47] [Ressonância] da ESSENCIAÇÃO do seer a partir do abandono do ser por meio da indigência impositiva do esquecimento do seer. Trazer à aparição de seu poder velado esse esquecimento por meio de uma lembrança como esquecimento e ver aí a ressonância do seer. O reconhecimento da indigência. A tonalidade afetiva diretriz da ressonância: horror e pudor, mas emergindo a cada vez da tonalidade afetiva fundamental da retenção. A mais extrema indigência: a indigência da falta de indigência. Deixar primeiro constituir-se a ressonância, sendo que muitas coisas precisam permanecer aí necessariamente incompreensíveis e inquestionáveis e, contudo, um primeiro aceno se torna possível. Que traço de uma linha simples do dizer precisa ser escolhido aqui e estabelecido sem uma consideração secundária? A ressonância precisa abarcar o todo do rasgo e, antes de tudo, ser dividida como contrajogo em relação à conexão de jogo. A ressonância para quem? Para onde? A ressonância da ESSENCIAÇÃO do seer no abandono do ser. Como é que esse abandono do ser deve ser experimentado? O que ele é? Ele mesmo emergido da inessência do seer a partir da maquinação. De onde provém essa inessência? Não, por exemplo, a partir da nulidade do seer; ao contrário! [tr. Casanova; GA65: 50]
A ressonância do seer como recusa no abandono do ser do ente – isso já diz que aqui não deve ser descrito, explicado ou colocado em ordem algo presente à vista. O peso do pensamento é diverso no outro início da filosofia: o re-pensar daquilo que acontece apropriadoramente como o próprio acontecimento apropriador, trazendo o seer para a verdade de sua ESSENCIAÇÃO. Como, porém, no outro início, o seer se torna acontecimento apropriador, a ressonância do seer também precisa ser história, atravessar a história em um abalo essencial e poder dizer e saber ao mesmo tempo o instante dessa história. (Não são uma caracterização e uma descrição histórico-filosófica que se tem em vista aqui, mas um saber sobre a história a partir do instante e como o instante da primeira ressonância da verdade do próprio seer). E, de qualquer modo, o discurso soa como se só vigorasse a denominação do atual. O que é dito seria sobre a era da completa inquestionabilidade, que estende seu espaço de tempo subtemporalmente para além do atual de volta e muito para a frente. Nessa era, nada essencial – caso essa determinação em geral ainda tenha um sentido – é mais impossível ou inacessível. Tudo “é feito” e “se deixa fazer”, contanto que se tenha a “vontade” para tanto. O fato, porém, de ser precisamente essa “vontade”, que já estabeleceu e degradou de antemão aquilo que pode ser possível e, antes de tudo, necessário, já é de antemão desconhecido e deixado fora de toda e qualquer questão. Pois essa vontade, que faz tudo, se prescreveu de antemão a maquinação, aquela interpretação do ente como o re-presentável e re-presentado. Re-presentável significa por um lado: acessível no visar e no calcular; e significa, então: passível de ser trazido à tona na pro-dução e na execução. Tudo isso, porém, pensado a partir do fundamento: o ente enquanto tal é o re-presentado, e apenas o representado é ente. O que estabelece aparentemente uma resistência e um limite para a maquinação é, para ela, apenas a matéria prima para o trabalho ulterior e o impulso para o progresso, a ocasião para a extensão e a ampliação. No interior da maquinação, não há nada digno de questão, algo tal que pudesse ser honrado enquanto tal e honrado sozinho, e, com isso, iluminado e elevado ao nível da verdade. [tr. Casanova; GA65: 51]
A ressonância da verdade do seer e de sua ESSENCIAÇÃO mesma a partir da indigência do esquecimento do ser. O alçar essa indigência a partir de sua profundidade enquanto ausência de indigência. O esquecimento do ser não sabe nada sobre ela, ele pensa estar junto ao “ente”, junto ao “efetivamente real”, próximo da “vida” e seguro do “vivenciar”. Pois ele conhece apenas o ente. Todavia, desse modo, em tal presentação do ente, esse ente é abandonado pelo seer. O abandono do ser, porém, é o fundamento do esquecimento do ser. No entanto, o abandono do ser do ente traz para o ente a aparência de que esse ente mesmo seria, então, sem qualquer necessidade de um outro, apto para ser pego e utilizado. O abandono do seer, contudo, é o ser exposto e a proibição do acontecimento apropriador. É a partir do abandono do ser que a ressonância precisa soar e ter início com o desdobramento do esquecimento do ser, no qual o outro início ressoa e, assim, o seer. [tr. Casanova; GA65: 55]
A ressonância do seer quer resgatar o seer em sua plena ESSENCIAÇÃO como acontecimento apropriador por meio do desentranhamento do abandono do ser, o que só acontece de tal modo que o ente é recolocado por meio da fundação do ser-aí no seer que se abre no salto. [tr. Casanova; GA65: 55]
No nexo da questão do ser, não deve ser designado, com isso, um comportamento humano, mas um tipo de ESSENCIAÇÃO do ser. Mesmo o tom ressonante do desprezível precisa ser afastado, ainda que a maquinação favoreça a inessência do ser. Mas mesmo essa inessência nunca pode ser colocada em uma relação de depreciação, uma vez que ela é essencial para a essência. Ao contrário, o nome deve apontar imediatamente para o fazer (poiesis, techne), o que nós conhecemos, em verdade, como comportamento humano. A questão é que justamente isso só é possível com base em uma interpretação do ente, na qual a factibilidade do ente vem à tona, de tal modo, em verdade, que a entidade se determina precisamente na constância e na presentidade. O fato de algo se fazer por si mesmo e, consequentemente, também ser factível para um procedimento correspondente, o fazer-se-por-si-mesmo é a interpretação realizada a partir da techne e de seu círculo de visão da physis, de tal modo que, então, já se faz valer a preponderância no factível e no que se faz, o que em suma seria chamado de maquinação. A questão é que, no tempo do primeiro início, uma vez que se chega à despotencialização da physis, a maquinação ainda não vem à tona em sua plena essência. Ela permanece encoberta na presentidade constante, cuja determinação alcança na entelecheia o aguçamento máximo no interior do pensar grego inicial. O conceito medieval de actus encobre já a essência inicialmente grega da interpretação da entidade. Está em conexão com isso o fato de que, então, o elemento maquinal se impõe mais claramente e, por meio da inserção em jogo da ideia judaico-cristã da criação e da representação correspondente de Deus, o ens se transforma em ens creatum. Ainda que uma interpretação tosca da ideia de criação fracasse, permanece de qualquer modo essencialmente o ser causado do ente. O nexo de causa e efeito se transforma no nexo que a tudo domina (Deus como causa sui). Isso é um distanciamento essencial da physis e, ao mesmo tempo, a passagem para o vir à tona da maquinação como a essência da entidade no pensamento moderno. O modo de pensar mecanicista e o modo de pensar biológico são sempre apenas consequências da interpretação maquinal velada do ente. [tr. Casanova; GA65: 61]
A maquinação como ESSENCIAÇÃO da entidade dá um primeiro aceno para o cerne da verdade do próprio seer. Nós sabemos muito pouco sobre ela. Apesar disso, ela impera inteiramente sobre a história do ser da filosofia ocidental até aqui, de Platão até Nietzsche. [tr. Casanova; GA65: 61]
A maquinação mesma e, uma vez que ela é a ESSENCIAÇÃO do seer, o seer mesmo se subtraem. [tr. Casanova; GA65: 61]
A entidade como: Maquinação e correção « (ESSENCIAÇÃO da entidade) « [Vivência (Abandono do ser: Ausência de indigência; Ressonância da ESSENCIAÇÃO do seer; No abandono do ser; Maquinação (« recusa) » vivência (« Solidificação; Encantamento) + Encantamento] [tr. Casanova; GA65: 65]
1) a entidade é presentidade. 2) o seer é um encobrir-se. 3) o ente tem o primado. 4) a entidade é o suplemento e, por isso, o “a priori”. Não conseguimos conceber o que se encontra aí resolvido, enquanto a verdade do seer não se transformar para nós na questão necessária, enquanto não fundarmos o campo de jogo temporal, em cujas extensões se pode mensurar pela primeira vez o que aconteceu apropriadoramente na história da metafísica: a preliminar do acontecimento apropriador ele mesmo como a ESSENCIAÇÃO do seer. Somente se tivermos sucesso em projetar a história da metafísica naquelas extensões (1-4), é que nós a conceberemos em seu fundamento não elevado. Todavia, enquanto continuarmos haurindo as perspectivas a partir daquilo que podia e precisava se tornar expressamente um saber da metafísica (doutrina das ideias e sua modulação), nós seremos impelidos para o elemento historiológico, a não ser que concebamos idea já a partir do 1-4. [tr. Casanova; GA65: 86]
Esses são alguns caminhos, em si independentes e, entretanto, copertinentes, para jogar no saber sempre apenas uma única coisa: o fato de que a ESSENCIAÇÃO do seer carece da fundação da verdade do seer e de que essa fundação precisa se realizar como ser-aí, algo por meio do que todo idealismo e, com isso, a metafísica até aqui e a metafísica em geral são superadas como um desdobramento necessário do primeiro início, que ganha assim pela primeira vez de maneira nova a obscuridade, a fim de só ser concebido a partir do outro início enquanto tal. [tr. Casanova; GA65: 88]
O outro início experimenta a verdade do seer e pergunta sobre o seer da verdade, a fim de, assim, fundar pela primeira vez a ESSENCIAÇÃO do seer e deixar o ente eclodir como o verdadeiro daquela verdade originária. [tr. Casanova; GA65: 91]
A fixação significa: perguntar sobre o ser do ente. A superação, porém: perguntar antes de tudo sobre a verdade do seer, sobre aquilo que nunca se tornou questão e nunca pode se tornar questão na metafísica. Esse duplo caráter transitório, que toma a “metafísica” ao mesmo tempo de maneira mais originária e, com isso, a supera, é inteiramente a caracterização da “ontologia fundamental”, isto é, de Ser e tempo. Esse título é estabelecido a partir de um claro saber em torno da tarefa: não mais ente e entidade, mas ser; não mais “pensar”, mas “tempo”; não mais pensar antes de tudo, mas o seer. “Tempo” como a denominação da “verdade” do ser e tudo isso como tarefa, como “a caminho”; não como doutrina e dogmática. Agora, a posição fundamental diretriz da metafísica ocidental, entidade e pensamento, o “pensar” – ratio – razão como fio condutor e como antecipação da interpretação da entidade, é colocada em questão; mas de modo algum apenas de tal modo que o pensar seria substituído pelo “tempo” e tudo não seria visado senão “de maneira mais temporal” e existencial, e, com isso, permaneceria tudo como era. Ao contrário, o que se tornou questão foi aquilo que não podia se tornar questão no primeiro início, a verdade ela mesma. Agora, tudo é e tudo se torna diferente. A metafísica se tornou impossível. Pois a verdade do seer e a ESSENCIAÇÃO do seer são o primeiro, não aquilo em direção ao que a ultrapassagem deve acontecer. Agora, contudo, o que importa também não é apenas a inversão da metafísica até aqui, mas, com a ESSENCIAÇÃO mais originária da verdade do seer enquanto acontecimento apropriador, a ligação com o ente se tornou uma ligação diversa (não mais a ligação da hypothesis e da “condição de possibilidade” – do koinon e hypokeimenon) O seer se essencia como acontecimento apropriador da fundação do aí e determina ele mesmo a verdade da essência a partir da ESSENCIAÇÃO da verdade. [tr. Casanova; GA65: 91]
A confrontação do outro início com o primeiro nunca tem o sentido de comprovar a história até aqui da questão diretriz e, com isso, a “metafísica” como um “erro”. Com isso, a essência da verdade seria tão desconhecida quanto a ESSENCIAÇÃO do seer, que permanecem inesgotáveis, porque elas são o que há de mais único para todo e qualquer saber. Com certeza, porém, a confrontação mostra que, para a interpretação do ente até aqui, se perdeu a necessidade, uma vez que não se pode experimentar mais nenhuma indigência e impeli-la para a sua “verdade”, nem tampouco o modo como até mesmo a verdade de si mesma é deixada inquestionada. Pois, desde Platão, nunca se perguntou sobre a verdade da interpretação do “ser”. Ao contrário, a correção da representação e seu alijamento por meio da intuição foram apenas retransportados da representação do ente para a representação da “essência”; e isso se deu, por fim, na “fenomenologia” pré-hermenêutica. [tr. Casanova; GA65: 94]
O fato de, no primeiro início, o “tempo” como presentação tanto quanto como constância (em um duplo sentido tragado de “presente”) forjar o aberto, a partir do qual o ente enquanto ente (o ser) tem a verdade. À grandeza do início corresponde o fato de que “o tempo” mesmo e, ele enquanto a verdade do ser, não é de modo algum digno de questão e de experiência. E tampouco se pergunta por que o tempo enquanto presente e não enquanto passado e futuro entra em jogo para a verdade do ser. Esse não questionado encobre a si mesmo enquanto tal e deixa para o pensar inicial unicamente que o des-comunal do irromper, da presentação constante na abertura (aletheia) do ente mesmo constitua a verdade. ESSENCIAÇÃO, sem ser concebida enquanto tal, é presentação. [tr. Casanova; GA65: 95]
A transição para o outro início tem de preparar o saber em torno dessa determinação histórica. Pertence a isso a confrontação com o primeiro início e com sua história. Essa história encontra-se sob o domínio do platonismo. E o modo determinado por meio daí de tratamento da questão diretriz pode ser indicado por meio do título: ser e pensar. No entanto, para a correta compreensão desse título é preciso atentar para o seguinte: 1) Ser tem em vista aqui a entidade e não, como em Ser e tempo, o ser mesmo inquirido originariamente com vistas à sua verdade; entidade como o “geral” para o ente. 2) Pensar no sentido do re-presentar de algo no geral e esse como presentificação e, com isso, como indicação prévia da região, na qual o ente é concebido com vistas à presentidade constante, sem que o caráter de tempo dessa interpretação jamais seja reconhecido. Isso acontece tão pouco que mesmo depois que, por meio de Ser e tempo, a ousia é interpretada pela primeiríssima vez como presentidade constante e essa é concebida como sua temporalidade, se continua falando de atemporalidade da “presença” e de “eternidade”, e, em verdade, porque se insiste no conceito comum de tempo, que só é válido como quadro para o mutável e, com isso, de qualquer modo, não pode fazer mal algum ao que constantemente se presenta! Como noein, logos, idein, pensar é aqui a razão enquanto o comportamento, a partir do qual e em cuja região, de maneira bastante infundada, a entidade é determinada. É preciso distinguir disso o “pensar” no sentido ulterior, que precisa ser ao mesmo tempo primeiro determinado, da realização do filosofar (cf o pensar inicial). Nesse aspecto, toda apreensão e determinação (conceito) da entidade e do seer é um pensar. Mas a questão decisiva continua sendo: em que âmbito da verdade se movimenta o desentranhamento da essência do ser? No fundo, mesmo aí onde, tal como na história da questão diretriz, a entidade é concebida a partir do noein, a verdade desse pensar não é o pensado enquanto tal, mas o tempo-espaço como ESSENCIAÇÃO da verdade, na qual todo re-presentar precisa se manter. [tr. Casanova; GA65: 100]
A confusão se intensifica radicalmente, quando se busca chegar, com o auxílio da diferença “ontológica” que emergiu de modo ontológico-fundamental, a uma solução da questão. Pois essa “diferença” é, com efeito, apenas ponto de partida não na direção da questão diretriz, mas na direção do salto ao cerne da questão fundamental; não para jogar de maneira obscura com marcas desde então fixas (ente e ser), mas para retornar à questão acerca da verdade da ESSENCIAÇÃO do seer e, com isso, para apreender de maneira diversa a ligação entre seer e ente, sobretudo porque o ente enquanto tal experimenta uma interpretação transformada (guarda da verdade do acontecimento apropriador) e porque não subsiste mais nenhuma possibilidade de inopinadamente contrabandear para aí “o ente” enquanto “objeto representado” ou enquanto “algo presente à vista em si” e coisas do gênero. [tr. Casanova; GA65: 107]
25) De acordo com isso precisamos perguntar: a) Em que experiência e interpretação está fundado o estabelecimento do ente enquanto idea? Em que verdade (de que essência) se b) encontra a determinação da entidade (ousia) do ente, ón, como idea? c) Se essa verdade permaneceu indeterminada, e ela permaneceu, por que não se perguntou sobre ela? d) Se nenhuma necessidade em relação a tal questão se fez valer, em que esse questionamento tem o seu fundamento? Esse fundamento só pode residir no fato de que a interpretação da entidade enquanto idea era completamente suficiente para a questão acerca do ente e tragava de antemão todo e qualquer questionamento diverso. E isso, por sua vez, precisa estar fundamentado na unicidade da interpretação do ente. e) Essa interpretação projeta o ente com vistas à presentidade constante. A idea se essencia enquanto tal e torna todo e qualquer passo para além disso impossível; pois com tal projeção o ser passa a se dar na ESSENCIAÇÃO, de acordo com a qual o ente encontra tudo preenchido. A ESSENCIAÇÃO enquanto presentidade e constância não abre nenhum espaço para uma in-suficiência e, com isso, também não oferece nenhum motivo para a questão acerca da verdade dessa interpretação; ela ratifica a si mesma como aquilo que ratifica todo ente enquanto tal. A entidade enquanto idea é, com isso, por si mesma o verdadeiramente (alethos) ente, ón. f) Por meio dessa interpretação do ente é atribuída ao homem desde então e de acordo com o ser uma posição inequívoca: como constantemente presente, o verdadeiramente ente é sempre e a cada vez o contraposto, a vista que se encontra em face de; o homem, por sua vez, é aquilo que ocorre e que está ligado e por si mesmo vinculado a esse contraposto; ele pode ser ele mesmo ainda o contraposto em meio à reflexão; o desdobramento posterior de consciência, objeto e “auto”-consciência se acham preparados. g) Não obstante, resta o fato de que a aletheia tinha sido experimentada e vislumbrada com a interpretação inicial do ón como physis. E, de acordo com isso, há no primeiro início mais do que na interpretação platônica. E, por isso, em meio à confrontação, o primeiro início precisa ser recolocado em sua grandeza e unicidade incapazes de serem falsificadas; a confrontação não o suspende, mas funda pela primeira vez sua necessidade para o outro. [tr. Casanova; GA65: 110] [O “a priori” e a physis] Isto é, to proteron te physei. physis normativa e o “anterior” como proveniência, origem. O que há de mais primevo, o que primeiro se pre-senta, a presentação é a própria physis, mas logo encoberta juntamente com a aletheia por meio da idea. Como se chega a tal questão acerca do proteron? Com base na idea como ontos ón. O que há de mais primevo na ESSENCIAÇÃO é essa ESSENCIAÇÃO mesma como ESSENCIAÇÃO do seer. A priori – a partir do ante-cedente; a priori aí, onde a questão diretriz se faz presente, a metafísica. Na transição, porém, apenas aparentemente o “a priori” é ainda um “problema”: a relação entre seer e ente é concebida de maneira completamente diversa a partir do acontecimento apropriador. [tr. Casanova; GA65: 111]
O que é estabelecido em Ser e tempo como “compreensão de ser” parecia ser apenas a ampliação dessa representação anterior, e, no entanto, (compreender como pro-jeto – ser-aí) é algo completamente diverso; como transição, porém, ele remete para a metafísica. A verdade do seer e a ESSENCIAÇÃO do seer não são nem o que há de mais primevo nem o que há de mais tardio. [tr. Casanova; GA65: 112]
O salto, o que há de mais ousado no procedimento do pensar inicial, deixa e lança tudo o que é corrente para trás de si e não espera nada imediatamente do ente, mas ressalta antes de tudo o pertencimento ao seer em sua plena ESSENCIAÇÃO como acontecimento apropriador. O salto aparece assim sob a aparência do que não leva nada em consideração e, contudo, ele é precisamente afinado por aquele pudor, no qual a vontade da retenção ultrapassa a si mesma e se transforma na insistência do suportar da mais distante proximidade da renúncia hesitante. O salto é a ousadia de uma primeira penetração no âmbito da história do ser. [tr. Casanova; GA65: 115]
Se soubéssemos a lei da chegada e fuga dos deuses, então conceberiamos algo primeiro em relação ao acometimento e à permanência de fora da verdade e, com isso, da ESSENCIAÇÃO do seer. [tr. Casanova; GA65: 120]
O seer se essencia como a verdade do ente. Sobre esse ente já sempre se decidiu com a ESSENCIAÇÃO do seer concebida ainda de maneira muito rudimentar e por meio de desvios. Com isso, a decisão sobre a verdade cai em todos os aspectos no salto para o interior da ESSENCIAÇÃO do seer. [tr. Casanova; GA65: 120]
O seer como a ESSENCIAÇÃO do acontecimento apropriador não é, por isso, um mar vazio, o mar indeterminado do determinável, para o interior do qual nós já saltamos de um lugar qualquer “sendo”, mas o salto faz com que o aí experimente pela primeira vez a emergência, como pertinente ao que acontece apropriadoramente no clamor, como os sítios instantâneos do em algum lugar e quando. [tr. Casanova; GA65: 120]
Clareira e encobrimento, constituindo a ESSENCIAÇÃO da verdade, nunca podem, por isso, ser considerados como um transcurso vazio e como objeto do “conhecimento”, de uma representação. Clareira e encobrimento são arrebatadores de maneira extasiante e voltam para o interior do próprio acontecimento apropriador. E onde quer que e até o ponto em que a aparência persiste de que haveria uma abertura vazia, em si realizável de uma acessibilidade imediata ao ente, aí o homem se encontra, então, apenas no campo prévio não mais e ainda nunca concebido do abandono, campo esse que restou e, assim, ainda se encontra deixado e mantido como resto de uma fuga dos deuses. [tr. Casanova; GA65: 120]
O pensar, como pensar inicial, funda o tempo-espaço em sua estrutura de arrebatamento extasiante, de encantamento, assim como ele escala e atravessa a abertura do fosso abissal do seer na unicidade, liberdade, casualidade, necessidade, possibilidade e efetividade de sua ESSENCIAÇÃO. [tr. Casanova; GA65: 120]
Na abertura da ESSENCIAÇÃO do seer torna-se manifesto que o ser-aí não realiza nada, a não ser iniciar o contraimpulso do acontecimento da apropriação, isto é, a não ser inserir nesse contraimpulso e, assim, se tornar ele mesmo: o que guarda o projeto jogado, o fundador fundado do fundamento. [tr. Casanova; GA65: 122]
Toda mediação e salvação tíbias não fazem outra coisa senão aprisionar o ente ainda mais no abandono do ser e transformar o esquecimento do ser na única forma da verdade, a saber, da não verdade do seer. Como é que o pressentimento poderia ganhar aí ainda o menor espaço possível, de tal modo que a recusa se mostrasse como o primeiro envio mais elevado do seer, sim, como a sua própria ESSENCIAÇÃO inicial. Esse envio acontece apropriadoramente como a retração, que vincula ao silêncio, no qual a verdade segundo sua essência chega novamente à decisão sobre se ela pode ser fundada como a clareira para o encobrir-se. Esse encobrir-se é o desencobrimento da recusa, o deixar pertencer ao elemento estranho de um outro início. [tr. Casanova; GA65: 123]
Elevar à palavra conceptiva a ESSENCIAÇÃO do seer, à palavra: que ousadia não reside em tal projeto? Esse saber, tal audácia inaparente, só pode ser suportada na tonalidade afetiva fundamental da retenção. Nesse caso, porém, ele também sabe que toda tentativa de fundamentar e explicar a ousadia de fora e, com isso, não a partir daquilo que ela ousa, fica aquém do que é ousado e o mina. Mas o que é ousado não permaneceria, então, de qualquer modo preso a um arbítrio? Com certeza. Só que ainda resta a questão de saber se esse arbítrio não seria a necessidade mais elevada de uma indigência compelidora, aquela indigência, que impõe à palavra o dizer pensante do ser. [tr. Casanova; GA65: 124]
O “tempo” deveria se tornar experimentável como o campo de jogo “ekstático” da verdade do seer. O arrebatamento extasiante em meio ao clareado deveria fundar a própria clareira como o aberto, no qual o seer se reúne em sua essência. Tal essência não pode ser comprovada como algo presente à vista, sua ESSENCIAÇÃO precisa ser esperada como um choque. O primeiro e longo permanece: poder esperar nessa clareira até que os acenos venham. Pois o pensar não tem mais o favor do “sistema”, ele é histórico no sentido único de que o seer mesmo suporta pela primeira vez como acontecimento apropriador toda história e, por isso, nunca pode ser alcançado pelo cálculo. [tr. Casanova; GA65: 125]
O que precisa permanecer, porém, é a extração em meio ao campo de jogo temporal do seer. Essa extração acomete todo aquele que se tomou forte o suficiente para pensar inteiramente as primeiras decisões, em cujo âmbito uma seriedade sapiente serve conjuntamente com a era, à qual permanecemos próprios. Tal seriedade, por sua vez, não se depara mais com bom e mim, com decadência e salvação da tradição, com benevolência e violência, mas só vê e concebe aquilo que é, a fim de auxiliar a partir desse ente, no qual a inessência vigora como algo essencial, a saída em direção ao ceme do seer, e a fim de trazer a história para o interior de seu fundamento imanente. Por isto, Ser e tempo não é nenhum “ideal” e nenhum “programa”, mas o início que se prepara da ESSENCIAÇÃO do seer mesmo; não aquilo que nós repensamos, mas o que, contanto que tenhamos nos tornado suficientemente maduros, nos impõe a entrada em um pensar que nem fornece uma doutrina, nem ocasiona um agir “moral”, nem assegura a “existência”, mas que, ao contrário, “apenas” funda a verdade como o campo de jogo temporal, no qual o ente uma vez mais pode ser sendo, isto é, pode se transformar na guarda do seer. [tr. Casanova; GA65: 125]
O seer só alcança sua grandeza, se ele é reconhecido como aquilo de que o deus dos deuses e de que toda deização precisam. O “usado” se contrapõe a toda utilização. Pois ele é o acontecimento apropriador do acontecimento da apropriação do ser-aí, no qual o sítio silencioso é fundado como a ESSENCIAÇÃO da verdade, o campo de jogo temporal do passar ao largo, o em meio a desprotegido, que desencadeia a tempestade do acontecimento da apropriação. [tr. Casanova; GA65: 126] [A abertura do fosso abissal] Essa abertura é o desdobramento que permanece em si da intimidade do seer mesmo, na medida em que nós o “experimentamos” como a recusa e como a recusa transvertora. Caso se quisesse tentar de qualquer modo o impossível e se buscasse apreender a essência do seer com o auxílio das “modalidades” metafísicas, então poder-se-ia dizer: a recusa (a ESSENCIAÇÃO do seer) é a mais elevada realidade efetiva do mais elevado possível enquanto possível, e, com isso, a primeira necessidade; contudo, seria preciso deduzir daí a proveniência das “modalidades” da ousia. Essa “elucidação” do seer, porém, o arranca de sua verdade (da clareira do ser-aí) e o degrada ao pura e simplesmente presente à vista em si, a mais deserta desertificação que pode caber ao ente. E pensemos no que acontece se essa desertificação for transportada ainda até mesmo para o seer! Ao contrário, precisamos tentar pensar a abertura do fosso abissal a partir daquela essência fundamental do seer, graças à qual ele se mostra como o reino da decisão para a luta dos deuses. Essa luta joga por sua chegada e fuga, em cuja luta os deuses pela primeira vez se deízam e colocam em decisão seu deus. [tr. Casanova; GA65: 127]
O elemento conflituoso precisa residir na ESSENCIAÇÃO do seer mesmo, e o fundamento é o acontecimento da apropriação como recusa, que é uma atribuição. Nesse caso, a negação e o não seriam até mesmo o salto mais originário no seer. [tr. Casanova; GA65: 129]
Acontecimento apropriador da fundação do aí deve querer dizer como genitivo objetivo que o aí, a ESSENCIAÇÃO da verdade em sua fundação (o mais originário do ser-aí), é apropriado em meio ao acontecimento, e a fundação mesma clareia o encobrir-se, o acontecimento apropriador. A viragem e o pertencimento da verdade (clareira do encobrir-se) à essência do seer. [tr. Casanova; GA65: 130]
Não é possível calcular se terá sucesso esse revolvimento do homem até aqui, isto é, a fundação anterior da verdade mais originária no ente de uma nova história. Ao contrário, tudo depende da doação ou da subtração do próprio acontecimento da apropriação; e isso mesmo se a ESSENCIAÇÃO do seer já tiver sido previamente pensada na meditação atual e se ela tiver se tornado consciente nos seus traços fundamentais. [tr. Casanova; GA65: 130]
Nesse caso, porém, nós precisamos recusar o hábito de querer assegurar essa ESSENCIAÇÃO do seer como algo arbitrariamente representável para qualquer um a qualquer momento. [tr. Casanova; GA65: 133]
Ao contrário, nós conquistamos a unicidade da oscilação em seu puro encobrir-se sempre apenas no salto para o interior daí, sabendo que nós não alcançamos o “derradeiro”, mas a ESSENCIAÇÃO do silêncio, o que há de mais finito e único como sítios instantâneos da grande decisão sobre a permanência de fora e a chegada dos deuses, e, aí, pela primeira vez, o silêncio da guarda em relação ao passar ao largo do último deus. [tr. Casanova; GA65: 133]
A ESSENCIAÇÃO do seer como acontecimento apropriador encerra em si o acontecimento da apropriação do ser-aí. De acordo com isso, considerado rigorosamente, o discurso acerca da ligação entre ser-aí e seer induz em erro, na medida em que sugere a opinião, segundo a qual o seer se essenciaria “por si” e o ser-aí acolheria a ligação com o seer. [tr. Casanova; GA65: 135]
A ligação do ser-aí com o seer pertence à ESSENCIAÇÃO do próprio seer, o que também pode ser dito assim: o seer precisa do ser-aí, não se essencia de maneira alguma sem esse acontecimento da apropriação. [tr. Casanova; GA65: 135]
Somente onde o seer se retém como o que se encobre é que o ente pode vir à tona e aparentemente dominar tudo, representando a única barreira contra o nada. E, não obstante, tudo isso se funda na verdade do seer. Mas, então, porém, a próxima e única consequência é deixar o seer e até mesmo esquecê-lo no velamento. Todavia: deixar o seer no velamento e experimentar o ser como o que se encobre são duas coisas fundamentalmente diversas. A experiência do seer, o suportar a sua verdade, traz, com certeza, o ente de volta para as suas barreiras e retira dele a aparente unicidade de seu primado. No entanto, assim ele não se torna menos essente, mas, ao contrário, mais essente, isto é, mais essencial na ESSENCIAÇÃO do seer. [tr. Casanova; GA65: 136]
No outro início, a própria ESSENCIAÇÃO do seer em sua completa estranheza em face do ente precisa ser alcançada como o elemento inicial. O ente mesmo não é mais o familiar, a partir do qual o seer só poderia ser destacado como um resto decantado, como se o seer fosse apenas a determinação maximamente universal ainda não concebida do ente de resto conhecido. No outro início consuma-se o mais extremo arrebatamento extasiante do “ente” como o supostamente normativo, por mais que ele continue ainda dominando todo pensamento. O seer não é aqui o gênero ulterior, não é a causa que se acrescenta, não é o elemento abrangente que se encontra por detrás ou acima do ente. Desse modo, o seer permanece aviltado e transformado em um adendo, cujo caráter de adendo não anula mais nenhuma ascensão em direção à “transcendência”. O seer é muito mais a ESSENCIAÇÃO a partir da qual e de volta à qual o ente, desvelado e abrigado, se torna pela primeira vez essente enquanto ente. A questão acerca da diferença entre ser e ente tem aqui um caráter completamente diverso do que no âmbito de questionamento da questão diretriz (da ontologia). O conceito de “diferença ontológica” apenas prepara enquanto transição da questão diretriz para a questão fundamental. [tr. Casanova; GA65: 137]
A verdade do seer, na qual e como a qual sua ESSENCIAÇÃO se encobre, se abrindo, é o acontecimento apropriador. E isso é ao mesmo tempo a ESSENCIAÇÃO da verdade enquanto tal. Na viragem do acontecimento apropriador, a ESSENCIAÇÃO da verdade é sobretudo a verdade da ESSENCIAÇÃO. E essa contravolta mesma pertence ao seer enquanto tal. A questão: porque a verdade é em geral como encobrimento clareador? pressupõe a verdade do por quê. Os dois, contudo, a verdade e o porquê (clamor da fundação), são o mesmo. ESSENCIAÇÃO é a verdade pertinente ao seer, que emerge dele. Somente lá onde, como no primeiro início, a ESSENCIAÇÃO vem à tona como presentação, chega-se logo à cisão entre o ente e sua “essência”, o que é justamente a ESSENCIAÇÃO do seer como presentidade. Aqui permanece necessariamente sem poder ser experimentada e colocada a questão acerca do seer enquanto tal e, isso significa, a questão acerca de sua verdade. [tr. Casanova; GA65: 137]
Caso não busquemos salvação em uma explicação do ser (da entidade) por meio do estabelecimento da primeira causa de todo ente, causa essa que causa a si mesma; caso não se dissolva o ente enquanto tal na objetualidade e não se explique uma vez mais a entidade agora a partir da re-presentação do objeto e de seu a priori; caso o seer mesmo deva chegar à ESSENCIAÇÃO e, contudo, todo tipo de ente deva ser mantido distante dele, então isso só se dará a partir de uma meditação necessária (o abandono do ser como consistindo em indigência), para a qual isso se torna inequívoco: A verdade do ser e, assim, esse ser mesmo só se essenciam onde e quando se dá o ser-aí. Ser-aí “é” apenas onde e quando o ser da verdade se dá. Uma, sim, a viragem, que indica justamente a essência do ser mesmo como o acontecimento apropriador contra-agitando-se em si. O acontecimento apropriador funda em si o ser-aí (I.). O ser-aí funda o acontecimento apropriador (II.). Fundar é aqui marcado pela viragem: I