O pensamento se concentra na consideração dessas simples referências. Para elas procura a palavra devida dentro da linguagem de há muito tradicional da metafísica e de sua gramática. Suposto que um título tivesse alguma importância, será que esse pensamento ainda poderia ser designado como humanismo? De certo que não [55], enquanto o humanismo pensa metafisicamente. Certamente não, se for existencialismo e defender a frase, que Sartre assim exprime: “précisement nous sommes sur un plan où il y a seulement des hommes”. (L’Existencialisme est un humanisme, p. 36). Em vez disso, dever-se-ia dizer, pensando-se segundo Ser e Tempo: “précisement nous sommes sur un plan où il y a principalement l’Être”. Mas, donde provém, e o que é le plan? “L’Être et le plan” são o mesmo. É de propósito e com cautela que se diz em “Ser e Tempo” (p. 212) : il y a l’Être: “es gibt” o Ser. O “il y a” traduz inexatamente o es gibt”. Pois o “es” que aqui “gibt” (dá), é o próprio Ser. O “gibt” (dá) evoca a Essência do Ser, que se doa, concedendo a sua Verdade. O dar-se a si mesmo com a abertura à abertura é o próprio Ser.
Ao mesmo tempo, emprega-se o “es gibt” (se dá), para evitar, por enquanto, a locução: “o Ser é”; pois o é se diz comumente daquilo que é. E isso chamamos de ente. Ora, o Ser não é o ente. Por isso, se se diz o é, sem ulteriores explicações, do Ser, então facilmente se entende o Ser como um ente, à maneira dos entes conhecidos, que como causa produzem efeito ou como efeito são produzidos. Sem embargo, já nos primórdios do pensamento, diz Parmênides; estin gar einai, “é, pois, o Ser”. Nessa palavra se esconde para todo pensamento o mistério originário. Talvez o é só possa ser dito de maneira adequada do Ser, de sorte que, em sentido próprio, nenhum ente é. Todavia, porque o pensamento ainda deve chegar [56] a dizer o Ser em sua Verdade, ao invés de explicá-lo como um ente, tem que ficar aberta, para o desvelo cuidadoso do pensamento, a questão, se e como o Ser é. [CartaH:55-57]