ens creatum

Mas uma outra tradição, que se apoia na narrativa da Gênese, ensina que o homem foi criado à imagem de Deus. Ele não tem apenas uma natureza, possui também uma relação essencial com a sobrenatureza, com a «transcendência», no sentido teleológico. «Deus disse: façamos o homem à nossa imagem (eikona) e semelhança (homoiosin)» (Gênese, I, 26, citado no SZ p. 48). O Homem traz na sua essência como que a marca do artesão na sua obra, a imagem, quer dizer, a analogia proporcional (homoiosis) do Todo-Poderoso e do Invisível. A teologia cristã acrescenta à animalidade racional — que retoma da tradição grega sem a repor em questão, pois o homem enquanto ens creatum é um ser natural, substancial —, «a ideia da transcendência, segundo a qual o homem é além disso um ser dotado de razão» (SZ:4). Reforçada com a certeza da revelação, a teologia produz uma nova cisão conflitual na essência humana: por um lado entre a natureza e a graça, entre o corpo e o espírito, ambos cativos do «mundano», e a alma, por outro, chamada à «vida sobrenatural». (HEH:16)