A intimidade de mundo e coisa vigora no corte do entre, vigora na di-ferença [Unter-schied]. A palavra di-ferença foge aqui de seu uso habitual e comum. O termo “a di-ferença” não diz uma categoria genérica para várias espécies de distinções. A di-ferença aqui nomeada é só uma. E única. Por si, a di-ferença mantém em separado o meio em que e pelo qual mundo e coisa são sua unidade na relação com o outro. A intimidade da di-ferença é o elemento unificador da diaphora, o suporte que reporta um ao outro. A di-ferença dá suporte ao fazer-se mundo do mundo, ao fazer-se coisa das coisas. Dando assim suporte, a di-ferença reporta um ao outro. A di-ferença não intermedeia posteriormente como se mundo e coisa se conectassem a um meio posteriormente acrescentado. Como meio, a di-ferença é mediadora para entregar mundo e coisa para os seus modos de ser, ou seja, para o seu ser em relação ao outro, em cuja unidade ela é o suporte.
A palavra “di-ferença” não significa, portanto, uma distinção entre dois objetos, estabelecida por nossos hábitos representacionais. A di-ferença tampouco é apenas uma relação entre mundo e coisa, capaz de ser constatada por uma representação adequada. A di-ferença não se define posteriormente a mundo e coisa como o seu relacionamento. A di-ferença de mundo e coisa apropria as coisas no gesto de um munào, apropria mundo concedendo coisas.
A di-ferença não é distinção nem relação. A di-ferença é no máximo dimensão para mundo e coisa. Sendo assim, “dimensão” também não mais significa um âmbito simplesmente dado em si mesmo, onde isso e aquilo se estabelecem. Medindo o que lhes é próprio, a di-ferença é a dimensão. É essa medida que entreabre mundo e coisa em seu ser em relação ao outro na separação de um e de outro. Entreabrir é assim o modo em que a di-ferença mede um e outro. Como meio para mundo e coisa, a di-ferença mede a medida de sua essência. A di-ferença é propriamente o que, num chamado, se chama quando coisa e mundo são evocados. [GA12]