destino do ser

Existiria ainda ocasião para um pensador se deixar conduzir presunçosamente por este destino do ser? Se as coisas estivessem neste pé, haveria ainda motivo para, em tal abandono do ser, se fantasiar ainda outra coisa e isto levado até por uma disposição de humor elevado mas artificial? Se esta fosse a situação em tomo do abandono do ser, não haveria motivo bastante para que o pensamento, que pensa no ser, caísse no espanto que o paralisaria de tal modo que não fosse mais capaz de outra coisa que sustentar na angústia este destino do ser para, antes de tudo, levar a uma decisão o pensamento que se ocupa do esquecimento do ser? Mas seria disto capaz um pensamento enquanto a angústia, herdada como destino, fosse apenas uma deprimente disposição de humor? Que tem a ver o destino do ser com psicologia e psicanálise? MHeidegger: O RETORNO AO FUNDAMENTO DA METAFÍSICA

História do ser significa destino do ser – e nessas destinações tanto o destinar como o Se que destina se retêm com a manifestação de si mesmos. Reter-se significa em grego epoché Por isso se fala de época do destino do ser. Época não significa aqui um lapso de tempo no acontecer, mas o traço fundamental do destinar, a constante retenção de si mesmo em favor da possibilidade de perceber o dom, isto é, o ser em vista da fundamentação do ente. A sucessão das épocas no destino de ser não é nem casual nem se deixa calcular como necessária. Não obstante, anuncia-se no destino aquilo que responde ao destino e no comum-pertencer das épocas aquilo que convém. Estas épocas se encobrem, em sua sucessão, tão bem que a destinação inicial de ser como pre-s-ença é cada vez mais encoberta de diversas maneiras. MHeidegger: TEMPO E SER

No destinar do destino do ser, no alcançar do tempo, mostra-se um apropriar-se trans-propriar-se, do ser como presença e do tempo como âmbito do aberto, no interior daquilo que lhes é próprio. Aquilo que determina a ambos, tempo e ser, o lugar que lhes é próprio, denominamos: das Ereignis (o acontecimento-apropriação). (Ainda que Ereignis possa ser traduzido por acontecimento-apropriação, mantém-se doravante o termo alemão, pois de maneira alguma é possível transpor para o vernáculo toda a riqueza de conotações do termo original. Heidegger mesmo dá-me razão: “Ereignis como palavra-guia deixa-se tão pouco traduzir quanto a palavra-guia grega lógos ou a chinesa Tao”. Vide Que É Isto – a Filosofia? – Identidade e Diferença. (N. do T.)) O que nomeia esta palavra, somente podemos pensar agora a partir daquilo que se manifesta na vista prévia sobre ser e sobre tempo como destino e como alcançar, onde é o lugar de tempo e ser. A ambos, tanto ser como tempo, denominamos questões. O “e” entre ambos deixou sua relação recíproca no indeterminado. MHeidegger: TEMPO E SER

O destinar no destino do ser foi caracterizado como um dar, em que aquilo que destina retém-se a si mesmo e nesta suspensão se subtrai à desocultação. MHeidegger: TEMPO E SER

Na medida em que agora destino do ser reside no alcançar do tempo e este com aquele residem no Ereignis, manifesta-se, no acontecimentoapropriador, o elemento específico: ele subtrai o que lhe é mais próprio ao desvelamento sem limites. Pensando a partir do acontecer apropriados, isto quer dizer: Ele se des-apropria, no sentido mencionado de si mesmo. Do Ereignis enquanto tal faz parte a Enteignis, o não-acontecer desapropriados. Através deste último o Ereignis não se abandona, mas guarda sua propriedade. MHeidegger: TEMPO E SER

Sem dúvida, tornou-se agora visível que o que quer dizer Ereignis, passado pela análise do próprio ser e do próprio tempo, pela penetração do destino do ser e no alcançar do espaço-de-tempo. Mas chegamos nós, por esta via, algo mais que a puros pensamentos fantasiosos? No fundo desta suspeita fala a opinião de que o Ereignis, contudo, deveria “ser” algo entitativo. Entretanto o Ereignis nem é, nem se dd. Dizer um como o outro significa uma distorção do estado de coisas, como se quiséssemos fazer a fonte derivar do rio. MHeidegger: TEMPO E SER