Deleuze (2010:231) – ontologia da carne?

Desde a Phénoménologie de l’expérience esthétique (P.U.F., 1953), Mikel Dufrenne fazia uma espécie de analítica dos a priori perceptivos e afetivos, que fundavam a sensação como relação do corpo e do mundo. Permanecia próximo de Erwin Straus. Mas há um ser de sensação que se manifestaria na carne? Era a via de Merleau-Ponty no Le visible et l’invisible: Dufrenne fazia muitas reservas a uma tal ontologia da carne (L’oeil et l’oreille, Ed. L’Hexagone). Recentemente, Didier Franck retomou o tema de Merleau-Ponty, mostrando a importância decisiva da carne segundo Heidegger e já Husserl (Heidegger et le problème de l’espace, Chair et corps, Ed. de Minuit). Todo este problema está no centro de uma fenomenologia da arte. Talvez o livro ainda inédito de Foucault, Les aveux de Ia chair, nos informe sobre as origens mais gerais da noção de carne, e seu alcance na Patrística.

(DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O que é a filosofia? São Paulo: Editora 34, 2010)