Para Heidegger, ainda estamos, na melhor das hipóteses, a caminho da Gelassenheit. Nosso Dasein ainda não está “aí” na região do não-querer; ainda não demos o salto adequado (de volta) para o Da do Sein. Estar no caminho envolve uma problematização múltipla e implacável da vontade. Antes ainda, para Heidegger, no caminho errante de seu Denkweg, era necessário primeiro descobrir o problema da vontade; isto é, ele primeiro tinha de encontrar o caminho da problematização da vontade. Tendo tropeçado e depois retornado explicitamente para limpar esse caminho. A crítica madura de Heidegger à vontade nos obriga a considerar esse problema como uma das questões mais decisivas para o pensamento atual. No mínimo, este estudo demonstrará como o problema da vontade pode — com pouco mais do que um toque de ênfase interpretativa — ser lido como o problema dos problemas no caminho do pensamento de Heidegger.
Essa leitura não significa deslocar a questão do ser; pelo contrário, revela que a Seinsfrage envolve, em seu âmago, a questão da vontade. A questão da vontade está tão entrelaçada com a questão do ser quanto esta última está com a questão da essência do homem. Heidegger afirmou repetidamente que a relação entre o ser e o homem é “de fato a única questão que todo pensamento anterior deve primeiro enfrentar” (GA8:WhD 74/79). No entanto, como a relação entre o ser e o homem deve ser pensada em sua Grundstimmung; como devemos estar sintonizados com o ser? É aqui que encontramos uma virada radical no caminho do pensamento de Heidegger, que, após uma profunda ambivalência em relação à vontade em Ser e Tempo, passa por um abraço zeloso da vontade na primeira metade da década de 1930, antes de levar a suas tentativas maduras de se preparar pacientemente para pensar sem vontade (non-willing(ly)).
(DAVIS. Bret W.. Heidegger and the Will. On the Way to Gelassenheit . Evanston: Northwestern University Press, 2007)