crença

Glaube

O que significa o termo “crença” segundo o seu conceito formal e ainda indeterminado em sua respectiva configuração? Nietzsche caracteriza a essência da crença com as seguintes palavras:

“O que é uma crença? Como ela surge? Toda crença é um tomar-por-verdadeiro (Für-wahr-halten)” (A vontade de poder, n. 15; 1887).

Dessas palavras só conseguimos retirar uma coisa. No entanto, essa coisa é a mais importante: crer significa tomar algo representado por verdadeiro e visa, com isso, ao mesmo tempo, ao se manter junto ao verdadeiro e no verdadeiro (Sichhalten an das Wahre und im Wahren). Na crença não reside apenas a ligação com aquilo em que se crê, mas antes de tudo com aquele que crê. O tomar-por-verdadeiro é o reter-se (Sichhalten) no verdadeiro, e assim um reter-se no sentido duplo: ter um apoio (Halt) e conservar uma postura (Haltung). Esse reter-se recebe sua determinação do que é estabelecido como o verdadeiro. Nesse contexto permanece essencial saber como, afinal, a verdade do verdadeiro (Wahrheit des Wahren) é concebida e que relação se dá entre o verdadeiro e o reter-se no verdadeiro a partir desse conceito de verdade. Se o reter-se na verdade é um modo de ser da vida humana, só conseguiremos decidir sobre a essência da crença e sobre o conceito nietzschiano de crença em particular se tivermos clareza quanto à sua concepção de verdade enquanto tal e à sua relação com a “vida” (Leben), o que significa, ao mesmo tempo para Nietzsche, com o ente na totalidade. Sem uma concepção suficiente da concepção nietzschiana da crença, só muito dificilmente ousaremos dizer, por conseguinte, o que significa para ele a palavra “religião” (Religion), quando ele denomina o seu pensamento mais pesado “a religião das almas mais livres, mais serenas e mais sublimes”. Tampouco podemos compreender a liberdade aqui citada, assim como a “serenidade” (Heiterkeit) e o “caráter de sublime” (Erhabenheit), segundo as nossas representações correntes e fortuitas.