P — Só que existe um perigo muito maior nos ameaçando. E um perigo que nos atinge a ambos e que se torna tanto mais perigoso quanto menos puder ser percebido.
J — Como assim?
P — O perigo que nos ameaça provém de uma região em que não se pode presumir onde haverá de se fazer a experiência do perigo.
J — O senhor já deve ter percebido, do contrário não poderia indicá-lo.
P — Estou longe de tê-lo percebido em toda sua envergadura. Mas já o pressenti e na verdade nas conversas com o conde Kuki.
J — O senhor lhe falou a esse respeito?
P — Não. O perigo surgia das próprias conversas por serem conversas.
J — Não entendo o que o senhor quer dizer.
P — As conversas não eram discussões eruditas adredemente preparadas. Toda vez que algo assim parecia ocorrer, como por exemplo nos seminários, o conde Kuki se calava. As conversas se realizavam como um jogo livre em minha casa. As vezes, o conde Kuki trazia a esposa num costume de festa japonês. Então o mundo oriental brilhava com mais clareza e o perigo das conversas aparecia com maior nitidez.
J — Ainda não entendo o que o senhor quer dizer.
P — O perigo das conversas se escondia na própria língua, não naquilo que conversávamos, mas no modo em que tentávamos fazê-lo.
J — Mas o conde Kuki dominava bem o alemão, o francês e o inglês, e isso de maneira extraordinária.
P — Sem dúvida. Ele sabia dizer em línguas europeias o que se discutia. Mas discutíamos o iki. Na discussão, mantinha-se fechado para mim o espírito da língua japonesa, e ainda hoje continua.
J — As línguas da conversa depositavam tudo no europeu.
P — E a conversa tentava dizer o essencial da arte e poesia oriental.
J — Agora entendo melhor onde o senhor fareja o perigo. A língua da conversa destruía continuamente a possibilidade de se dizer o que se discutia. [GA12]