conjuntura discreta

unscheinbaren Sachverhalt

Só perceberemos a conjuntura, que rege e reina na essência da ciência, quando levarmos também em consideração que o incontornável é inacessível.

Mas por que chamamos este incontornável inacessível de “conjuntura discreta”? É que o discreto não chama a atenção. Pode ser visto sem, no entanto, ser considerado. Será, então, que só não se considera a conjuntura apontada na essência da ciência porque se pensa raramente e muito pouco a essência da ciência? É o que ninguém poderá dizer, com alguma razão. Ao contrário, muitos testemunhos falam de uma estranha inquietação que hoje perpassa não somente a física mas todas as ciências. Outrora, porém, nos séculos passados da história cultural e científica do Ocidente, surgiram sempre novas tentativas, visando a delimitar a essência da ciência. Um traço característico da Idade Moderna é, antes de qualquer outro, o esforço apaixonado e constante neste sentido. Como, então, aquela conjuntura poderia passar desapercebida? Fala-se muito, hoje em dia, da “crise de fundamentos” das ciências. A crise refere-se, na verdade, apenas aos conceitos fundamentais de algumas ciências. Não se trata de uma crise da ciência, como tal. A ciência continua, ao contrário, seguindo seu curso, com mais firmeza do que nunca.

Ora, o incontornável inacessível, que atravessa as ciências e lhes torna a essência enigmática, tem muito mais peso e é de outra [57] essência do que mera incerteza no estabelecimento de conceitos fundamentais. A inquietação nas ciências ultrapassa, neste sentido, de muito, a simples incerteza de seus conceitos fundamentais. Apesar de todas as discussões epistemológicas sobre as ciências, reina inquietação nas ciências mas não se sabe dizer nem donde provém nem a respeito de quê. Hoje, as mais diversas filosofias refletem sobre as ciências. Em todos estes esforços da parte da filosofia, depara-se com auto-explicações que, por toda parte, as próprias ciências tentam na forma de compêndios e descrições da história das ciências.

E, não obstante, o incontornável permanece em discrição. É que a discrição da conjuntura não se pode reduzir apenas ao fato de ela não nos chamar a atenção e de nós não a notarmos. Sua discrição baseia-se muito mais no fato de ela mesma não se deixar aparecer. Próprio do incontornável inacessível é que se passe por cima dele e não se note sua presença. À medida que a discrição lhe constitui um traço de essência, a conjuntura só será determinada suficientemente se acrescentarmos: pertence à conjuntura, que rege a essência da ciência, isto é, a teoria do real, ser um incontornável inacessível porque sempre se passa sem perceber.

A conjuntura discreta está recôndita nas ciências mas não como uma maçã num cesto. Temos, ao invés, de dizer: as ciências repousam na conjuntura discreta, como o rio, na fonte.

Nosso propósito era apontar para a conjuntura a fim de deixá-la por si mesma acenar para o lugar onde brota a essência da ciência.

O que conseguiu-se até aqui? Despertamos para o incontornável inacessível da ciência, que se pula sempre em todo relacionamento com a ciência. Ele se mostra na objetidade. Pois, na objetidade, o real se ex-põe, através da objetidade, a teoria persegue os objetos, visando assegurá-los junto com seu sistema para as representações instaladas no domínio de cada ciência. Esta conjuntura discreta atravessa, com sua regência, toda objetidade, onde tanto a realidade, como a teoria do real se movem, onde se equilibra, portanto, toda a essência da ciência ocidental moderna. [GA7]