Categoria: Fenomenologia Hermenêutica

  • As ciências formais são as matemáticas e a lógica. Poderíamos até nomeá-las no singular, simplesmente como a ciência dos sistemas formais. Um sistema formal é uma realidade de ordem ideal. Os sinais e os conceitos dos sistemas formais se referem a entidades ideais próprias de tais sistemas. Por exemplo, na lógica as diferentes formas de…

  • A civilização ocidental conduziu o espirito a desenvolver-se como inteligência, que é habilidade e perícia no exame e cálculo de coisas dadas com vistas a um possível uso. A inteligência ocidental se aprimorou na competência de criar e controlar a realidade em modelos e sistemas. Ela vive a realidade re-criada nessa transformação. Numa transcendência sempre…

  • A ciência é um modo de compreensão da totalidade da realidade: é força unidimensional, reduz a seu modelo todos os outros modelos culturais. Não suporta a diferença. Reduz tudo a um plano, a um horizonte. O que não se deixa ver nesse horizonte não é considerado, simplesmente não existe! Deve-se, porém, notar que quando a…

  • A ciência também é uma expressão articulada de conhecimento do ser. Em oposição ao conhecer ordinário e mítico, cuja articulação intelectiva morre como que submersa no próprio real que intende elucidar, o conhecimento científico se caracteriza por distanciar-se da convivência do ser, por apreendê-lo numa clara representação objetiva. Ao fazer ciência, a mente como que…

  • O filósofo não pretende construir uma representação que colha o ser na sua originariedade. A filosofia não é um saber representar o ser, como a matemática é um saber representar a realidade more geometrico, como a física é um saber representar os corpos em sistemas. A filosofia não se furta e nem pode se furtar…

  • Para compreender o que seja «conhecimento científico» é preciso aclarar o espaço onde ele se efetua. Não todo conhecimento é científico. Quando um conhecimento se torna científico ou se faz ciência? O conhecimento se constitui em ciência desde o momento em que possa indicar claramente seu objeto e em segundo lugar desde que possa falar…

  • O tema deste livro é a técnica como o horizonte de todas as possibilidades futuras. Há dez anos (em 1982), quando formulei essa pergunta pela primeira vez, ela ainda parecia secundária. Hoje, ela atravessa todas as nossas questões, e sua enormidade se impõe a todos nós. Isso exige uma tarefa, cuja urgência ainda é pouco…

  • Esse é o significado de Prometeu acorrentado, cujo fígado é devorado pela águia de Zeus. Por meio dessa vingança olímpica, uma melancolia primordial, portadora de todos os fantasmas, todas as hipocondrias, todas as misantropias atrabiliárias, precederá como sua possibilidade a comunidade hermenêutica. Com o fogo que entregou em suas mãos, Prometeu determinou o tipo de…

  • Desejo examinar várias facetas daquilo que vou chamar de a “identidade moderna”. Uma boa primeira abordagem do que isso significa seria dizer que a tarefa envolve o rastreamento de várias vertentes de nossa concepção moderna do que é ser um agente humano, uma pessoa ou um seif. Contudo, o processo dessa investigação logo mostra que…

  • A Interface entre a Filosofia da Ciência e a Filosofia da Técnica Don Ihde demonstra como a instrumentação científica pode ser a conexão forte, ou o “interface”, entre a filosofia da ciência e a filosofia da técnica. O livro defende uma abordagem centrada em práxis-percepção para a filosofia da ciência e explora formas pelas quais…

  • Embora em sua concepção de tecnologia moderna Heidegger devesse mais a Ernst Jünger do que a qualquer outra pessoa, as opiniões de ambos eram consistentes com as de alguns outros membros da “revolução conservadora”. Eles concordavam que a tecnologia não podia ser entendida em termos de categorias sociais, políticas ou econômicas; em vez disso, as…

  • A própria linguagem de Jünger produz um efeito impressionante, mas difícil de descrever, no leitor. Apesar de falar sobre o sangue quente da “experiência interior”, ele descreveu as coisas de uma forma estranhamente distanciada, como se fosse um observador em um mundo de pesadelo do qual não havia como despertar. No entanto, como sua escrita…

  • Falando do corpo humano, urge, antes de tudo, que tomemos precaução para estar certos de tratarmos realmente do corpo humano. Caso contrário, ver-nos-íamos levados a falar do corpo humano como “um” corpo pertencente ao grande grupo “de” corpos,1 dos quais a gente se ocupa quando diz, p. ex., com o físico: “se um corpo, todo…

  • Há vinte e cinco séculos se filosofou e o resultado foi o surgimento de inumeráveis sistemas contraditórios. Conquanto o pensamento filosófico seja muito mais antigo do que a ciência positiva que conhecemos hoje, não há nem sequer um reduzido número de proposições sobre as quais os filósofos estejam de acordo.1 Pode-se mesmo dizer que talvez…

  • Todos os sistemas materialistas concordam em considerar o homem como o resultado de forças e processos cósmicos, do mesmo modo que as coisas. Um materialista há de dizer, portanto, que o ser do homem será chamado ser-no-mundo no sentido de que, como todas as coisas, é algo no meio das outras coisas mundanas, um fragmento…

  • Excertos de W. Luijpen, “Introdução à fenomenologia existencial” A tentativa do materialismo de exprimir a realidade do ser do homem malogra, porque aduz só um aspecto da totalidade do ser humano, embora essencial. É, conforme uma expressão de Le Senne, uma espécie de “destotalização da realidade”. O materialismo redunda num monismo para o qual na…

  • LUIJPEN, Wilhelmus Antonius Maria. Introdução à fenomenologia existencial. Tr. Carlos Lopes de Mattos. São Paulo: EDUSP, 1973 A relativa prioridade do sujeito pode também ser expressa de outro modo. O mundo das coisas revela-se, sempre e necessariamente, como o não-eu. O não-ser-eu pertence à realidade do mundo das coisas. Coisas no mundo material que não…

  • Descartes viveu num tempo em que a filosofia escolástica decaíra, chegando a uma deplorável inautenticidade de pensamento. Terminado o curso do célebre colégio jesuítico de La Flèche, teve de reconhecer que a única vantagem da busca do conhecimento foi a sempre crescente consciência de sua ignorância. Verificou que na filosofia nada estava decidido, não havendo…

  • LUIJPEN, Wilhelmus Antonius Maria. Introdução à fenomenologia existencial. Tr. Carlos Lopes de Mattos. São Paulo: EDUSP, 1973 O caminho de um incontrastável ponto de partida para a “ciência admirável”, que há de conter a verdade e a certeza, leva Descartes à necessidade da dúvida metódica. Tudo o que, de qualquer modo, pode ser sujeito a…

  • A profundidade da crítica com que Descartes procede em sua procura de um ponto de partida indubitável do filosofar começa a produzir consequências já na primeira verdade da filosofia. O sujeito-como-cogito está fora de dúvida. Que é, porém, o sujeito ? Descartes não pode responder que o sujeito se encontra imerso na corporalidade ou envolto…