Categoria: Fenomenologia Hermenêutica

  • Há diferenças importantes entre Heidegger e Rosenzweig em sua discussão sobre o “nada”. Rosenzweig afirma que “a liberdade de Deus nasceu da negação original do Nada” (Estrela da Redenção. SE, 32 (E, 29)). Heidegger se opõe a essa definição religiosa: “ex nihilo fit – ens creatum” força o nada a ‘tornar-se o contraconceito do ser’…

  • Já deve estar ficando claro que Heidegger concebe o modo de ser humano como essencialmente condicionado. O dualismo, o empirismo e o idealismo pressupõem, de várias maneiras, que o sujeito humano pode, de alguma forma, transcender o reino material sobre o qual fixa seu olhar e, portanto, que os seres humanos são apenas contingentemente possuidores…

  • (…) (Heidegger) diz, no contexto da análise existencial: A repetição é tradição expressa, ou seja, regressão a possibilidades do Dasein que já existiram… A repetição do possível não é nem uma restituição do “passado”, nem o fato de reconectar o “presente” ao “passado”… Em vez disso, a repetição responde à possibilidade de existência que já…

  • Quanto à significação da linguagem (…) é a partir de um exame da concepção heideggeriana de linguagem que devemos esperar esclarecimentos. Isso também será decisivo para entender a legalidade dos Esclarecimentos sobre a Poesia de Hölderlin (GA4). Devemos, portanto, retornar a Ser e Tempo, onde a linguagem é examinada tematicamente pela primeira vez (SZ, §…

  • A temporalidade é agora a unidade articulada do por-vir, do ter-sido e do presentar, que são, assim, dados a pensar juntos: “O fenômeno que oferece tal unidade de um por-vir que torna presente no processo de ter-sido, chamamo-lo temporalidade” [SZ:326]. (119) Podemos ver em que sentido essa espécie de dedução de uma pela outra das…

  • A questão da historialidade é introduzida pela expressão de um escrúpulo (Bedenken), que nos é agora familiar: “Submetemos, na realidade, o caráter de totalidade do ser-aí, relativamente a seu autêntico ser-um-todo, ao alcance prévio (Vorhabe) da análise existencial?” (SZ:372). Falta à temporalidade um traço para que ela possa ser tida como integral: esse traço é…

  • O clímax da análise de Heidegger é a correlação de ser com tempo, em oposição às estruturas estáveis e fixas da tradição, que sempre viram o tempo como problemático do ponto de vista ontológico. Com o ser-no-mundo organizado como cuidado e baseado na finitude do ser-para-a-morte, o significado do ser está, em última instância, associado…

  • Heidegger dá prioridade expressa à dimensão do futuro (BTMR, 372), como Zukunft, o ser-a-vir. O presentar não pode ter primazia na expressão dos movimentos da existência do Dasein. O futuro, como um ser-a-vir, tem primazia, mas sempre em meio ao passado como ser-sido (que é uma maneira formal de expressar o círculo hermenêutico). O futuro…

  • A temporalidade recebe uma referência mais concreta no conceito de Geschichtlichkeit, ou historicidade (BTMR, 434). A historicidade envolve as formas culturais específicas que a temporalidade do Dasein assume, como a atualização de possibilidades em meio a tradições herdadas. Assim como a temporalidade, a historicidade não pode ser fixada ou fundamentada. A prioridade do futuro rompe…

  • Um modo fundamental de ser-no-mundo que revela o “aí” é encontrado na cunhagem de Heidegger de Befindlichkeit e suas manifestações no humor (Stimmung).1 O humor pode ser chamado de tonalidade afetiva (com base em conotações de stimmen), uma revelação precognitiva de várias maneiras pelas quais o mundo importa para o Dasein (BTMR, 176) e interessa…

  • A suposta “simplicidade” do “eu penso” é igualmente enganosa, uma sedução de palavras. Nietzsche desafia a confiança na noção de uma certeza imediata (o imediatismo e a evidência do “eu penso”). Em Além do Bem e do Mal (parágrafo 16), Nietzsche fala da crença desses “inofensivos observadores de si mesmos” na superstição do “eu quero”…

  • Na verdade, um ego substancial subjacente não é um fato fenomenológico, mas um ídolo metafísico e, em última análise, para Nietzsche, um preconceito linguístico. A egologia substancialista da tradição cartesiana abriga uma metafísica implícita da gramática. “Infere-se aqui de acordo com o hábito gramatical: ‘pensar é uma atividade; toda atividade requer um agente; consequentemente —’”…

  • A problemática da ipseidade manifesta esse jogo entre o próprio e o impróprio, ao qual Heidegger mais tarde se referiria como o pertencimento de Ereignis e Enteignis. A ipseidade que está na base de cada Eu e Tu não será mais concebida como um traço do Ser que o Dasein tem de ser compreensivamente, mas…

  • Assim como o ser-sempre-meu (Jemeinigkeit) apontava na direção da ipseidade, o pensamento de Ereignis se preocuparia com o que é próprio do homem e com o que é próprio do Ser, na medida em que o Ser é próprio do homem e vice-versa.1 Assim como a Selbstheit do ser-sempre-meu precedeu tanto o Ser-Eu quanto o…

  • A relação de Derrida com a fenomenologia baseia-se não apenas em seus estudos detalhados de Husserl, mas também em sua complexa relação com Heidegger. Assim, em Positions, Derrida afirma: O que tentei fazer não teria sido possível sem a abertura das questões de Heidegger… não teria sido possível sem a atenção ao que Heidegger chama…

  • [(O trabalho de Heidegger foi fenomenológico do começo ao fim.)] [(O que Heidegger quer dizer com das Sein é a inteligibilidade das coisas, sua presença significativa (Anwesen) para a inteligência humana, tomada no sentido amplo de νοῦς e λόγος, seja ela prática ou teórica.)] [(O objetivo final de Heidegger, a chamada “coisa em si”, não…

  • Junto com a “história das dispensações” de Heidegger, e de fato inseparável dela, está a história do Seinsvergessenheit, o chamado “esquecimento do ser” na metafísica ocidental. Mas esse é um termo errôneo: tanto a frase em alemão quanto a em inglês obscurecem mais do que transmitem. O ser (Sein, Seiendheit, οὐσία, εἶναι, etc.) certamente nunca…

  • O que acontece quando o sentido falha? Como a forma de vida definida pelo λόγος, fomos feitos para o sentido, mas também somos capazes de vivenciar seu colapso. Isso pode ocorrer em vários níveis. Há o fracasso do sentido prático-ôntico quando, por exemplo, uma ferramenta escolhida não se encaixa mais na tarefa designada porque a…

  • (…) o ser não é presença constante, menos ainda sendo supremo; o ser propriamente falando não «é»; não é um sendo. O que é então? O primeiro passo para responder a uma questão deste tipo consiste em dizer: com e no sentido denuncia-se de uma certa forma o Outro de todo o sendo, esse outro…

  • No fim da sua obra, o próprio Heidegger considerava que a «experiência fundamental» que impulsionou toda a sua meditação foi a da Seinsvergessenheit: do esquecimento do ser; ser que muito precocemente reconheceu que não «era» à maneira do sendo, que era o Outro de qualquer sendo. Mas restava dar conta desse esquecimento. Se este foi…