Categoria: Fenomenologia Hermenêutica

  • Como devemos compreender essa facticidade original? Será talvez a Weise algo como uma máscara que o Dasein deveria vestir? Ou não é verdade antes o contrário, isto é, que justamente aqui uma ética heideggeriana podería encontrar seu lugar? Os termos “fáctico” e “facticidade” mostram aqui toda a sua pertinência. O adjetivo alemão faktisch, tal como…

  • É nessa perspectiva (da facticidade) que deve ser lida a dialética não resolvida de eigentlich e uneigentlich, do autêntico e do inautêntico, a que Heidegger consagrou algumas das mais belas páginas de Sein und Zeit. Heidegger sempre fez questão de precisar que as palavras eigentlich e uneigentlich têm de ser entendidas em seu significado etimológico…

  • Quase dez anos depois do fim de sua relação com Hannah Arendt, no curso de 1936 sobre Nietzsche (Der Wille zur Macht als Kunst), Heidegger trata tematicamente do amor em algumas páginas extremamente densas, em que esboça uma verdadeira teoria das paixões. Ele começa por subtrair os afetos e as paixões da esfera da psicologia,…

  • Esse estatuto original do amor (mais precisamente da paixão) é reafirmado em uma passagem da Carta sobre o humanismo, cuja importância para o problema que aqui nos ocupa não poderia ser superestimada. Aqui, “amar” (lieben) é aproximado de mögen (que significa ao mesmo tempo querer e poder), e este último termo é identificado com o…

  • (…) O que o homem introduz no mundo, o seu “próprio”, não é simplesmente a luz e a abertura do conhecimento, mas, acima de tudo e pela primeira vez, a abertura a um fechamento e a uma opacidade. A aletheia, a verdade, é a guardiã da lethe, da não verdade; a memória, a guarda do…

  • Quando, em 1994, surgiu a coletânea póstuma de textos de Hannah Arendt, intitulada Essays in Understanding, pôde-se observar com surpresa que o organizador da edição tinha inserido entre os artigos e ensaios um breve apontamento que tinha o tom confidencial de uma nota de diário ou de um mexerico. No texto, que tinha como título…

  • Podemos nos aventurar a dar o passo atrás em filosofia para o pensamento do Ser assim que nos familiarizarmos com a origem do pensamento. O título (O Fim da Filosofia …, GA14) é provocativo. Quer provocar uma “crítica imanente” de Ser e Tempo, composto cerca de quarenta anos antes, ou seja, investigar a “experiência básica”…

  • O Capítulo 5 pergunta se Heidegger entende o discurso apofântico — isto é, a predicação, a asserção e a capacidade de fazer declarações e argumentos — como a pedra de toque de toda a filosofia. Ou existe um Heidegger além das afirmações e da assertividade? Uma das principais reclamações de Derrida sobre o tratamento dado…

  • A filosofia existencial, filha do tédio e neta do espanto, procura descobrir, pela reflexão, a diferença ontológica entre o mundo das coisas e o mundo dos instrumentos. Heidegger diz que as coisas são nossa condição, e os instrumentos nossas testemunhas. Trata-se de um pensamento informado pela língua alemã e dificilmente pensável em português. “Coisas” em…

  • A tradução da palavra sein para o português revela radicalmente essa dependência linguística da ontologia. A língua portuguesa analisa as diversas modalidades do sein sem existencialismo, sem fenomenología e sem a análise categorial de Hartmann. Heidegger, Jaspers, Sartre e Camus teriam talvez analisado o problema do ser de urna forma radicalmente diferente, se tivessem apreendido…

  • A camada da conversação abrange processos que variam da conversação entre comprador e vendedor no mercado até a conversação progressiva que é chamada ciência. A camada da conversa abrange processos que variam do bate-papo entre duas vizinhas até aquela enorme conversa fiada que nos inunda na forma da propaganda comercial e política e das produções…

  • En su interpretación de la Antfgona de Sófocles (coro, versos 332-375) Heidegger intenta recorrer el área que la poesía nos revela para averiguar desde aquí lo que el hombre es. Comenzando por los versos de Sófocles que definen al hombre como la creatura «más inhóspita», Heidegger escribe: «Entendemos lo inhóspito como lo que nos saca…

  • Um dia desses — Mairena está falando aos seus alunos — os papéis dos poetas e dos filósofos se inverterão. Os poetas cantarão seu espanto diante das grandes audácias metafísicas, especialmente a maior de todas, aquela que pensa no ser fora do tempo, na essência separada da existência, como se estivéssemos dizendo: peixe vivo e…

  • Um dia desses — Mairena está falando aos seus alunos — os papéis dos poetas e dos filósofos se inverterão. Os poetas cantarão seu espanto diante das grandes audácias metafísicas, especialmente a maior de todas, aquela que pensa no ser fora do tempo, na essência separada da existência, como se estivéssemos dizendo: peixe vivo e…

  • Poderíamos começar apontando que, para Heidegger, a filosofia autêntica é aquela que se dirige ao que diz respeito a todo ser humano: estar no mundo, existir em meio a entidades. Como ele mostra desde suas primeiras lições e como ele resume em Ser e Tempo, a filosofia não é uma disciplina entre outras, mas um…

  • Como se sabe, na análise heideggeriana (e não apenas nela) aparece a questão da angústia e da preocupação intimamente ligada à questão do tempo. Simplificando muito, o complexo todo pode ser assim resumido: há uma maneira de ser da existência, na qual esta se rende ao mundo e se aliena progressivamente de si mesma, e…

  • Vimos que o Ser é a abertura dos entes. Um ente chega ao seu próprio Ser quando é tomado da maneira apropriada como aquilo que ele genuinamente é; isso ocorre quando deixamos que se mostre na clareira do Ser. Se tomarmos um ente como um ente, então nele surge uma fissura, de modo que ele…

  • O mundo como o quadrinômio (Geviert) de céu e terra, deuses e mortais, não pode ser explicado a partir da perspectiva de um fundamento que se encontra fora dele; mas também não pode ser explicado por um dos momentos estruturais que se pode tirar do próprio quadrinômio, para então declará-lo como o fundamento dos outros.…

  • Uma das características marcantes da filosofia contemporânea é a importância e a autonomia que a categoria do possível passou a adquirir dentro dela. Por meio dos trabalhos aparentemente discordantes, mas de alguma forma concordantes, do pensamento contemporâneo, essa categoria está começando a romper sua conexão (que na verdade é uma confusão) com a do virtual…

  • (…) O virtual é a potencialidade no sentido aristotélico como a pré-formação e a predeterminação do atual. Não se refere (como o possível faz) a uma seção transversal, mas ao desenvolvimento longitudinal do ser, ou seja, ao ser em movimento. Ele tende a reduzir o movimento à imobilidade ou a imobilidade ao movimento, e a…