Categoria: Fenomenologia Hermenêutica
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Trata-se agora de compreender esta função final que o mundo desempenha para o Dasein e que constitui seu caráter fundamental. Dizer que o mundo é uma função do Dasein é dizer que ele contém o conjunto de relações que o Dasein deve necessariamente implantar para existir. Essas relações foram analisadas no início de nosso estudo:…
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Heidegger chama este desvelamento do ente que é realizado por meio da projeção do mundo de “entrada no mundo” do ente (Welteingang des Seienden). É claro que essa não é uma atitude ativa por parte do ente que é o objeto do desvelamento; ele permanece passivo nessa operação: ao falar de sua entrada no mundo,…
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O ente se manifesta a partir da projeção reveladora que o Dasein faz de suas próprias possibilidades. Nesta projeção são constituídas as estruturas referenciais dentro das quais o ente pode se apresentar a nós e graças às quais é sempre englobado em uma unidade referencial. Talvez seja possível objetar que não precisamos desta projeção. Assim…
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O Dasein projeta suas possibilidades de existência — como já dissemos — por meio da vontade (Wille). A vontade projeta os fins em vista dos quais o Dasein forma sua existência, e de acordo com os quais ele existirá em vista de si mesmo (Umwillen-seiner-selbst). O uso dos termos “Willen” e “Umwillen” indica a ligação…
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Voltaremos ao pró-jeto e à sua estrutura temporal quando falarmos sobre tempo e temporalidade. Mas podemos, a partir de agora, evocar a interpretação mais profunda que Heidegger deu ao projeto, depois de Sein und Zeit (na “Carta a Beaufret”) e na qual explica o projeto a partir do Ser. “No projeto ekstático, o Ser se…
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Colocar o problema do sentido da preocupação (Sorge) é perguntar o que torna possível a estrutura geral da preocupação e tentar entender como essa estrutura pode ser uma construção e, portanto, conter dentro de si uma certa multiplicidade — sem deixar de ser uma unidade (SZ:324). Heidegger primeiro explica como ele compreende o termo “sentido”.…
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Na parte de Sein ou Zeit que deixamos de fora de nossa apresentação (parágrafos 46-64), Heidegger caracteriza o Dasein como uma resolução antecipativa (vorlaufende Entschlossenheit). Com isso ele quer dizer que o Dasein está aberto (aufgeschlossen), em sua decisão (Entschluss) sobre sua possibilidade extrema, que é sua morte (SZ:§53 (ET53)). O termo “antecipar” deve ser…
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O problema inicial era saber como o Dasein, entendido como preocupação (Sorge), pode realizar a unidade perfeita de seu ser, ou reconhecer o fundamento unificador da preocupação. Agora podemos respondê-lo: o Dasein só alcançará sua unidade perfeita se ele próprio for temporalizante. A temporalização implica o futuro, o passado e o presente. Resta-nos mostrar as…
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“A temporalidade temporaliza os diferentes modos possíveis que a constituem. Essas modalidades tornam possível a pluralidade de modos de existência do Dasein e, em primeiro lugar, as modalidades fundamentais de existência autêntica e inautêntica (95).” Isso significa que esses tipos de existência resultam de uma certa forma de temporalização. Mas se, como acabamos de dizer,…
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(…) cada um dos existenciais pode ser realizado de forma autêntica ou não autêntica. Se há de fato uma relação entre os existenciais e os êxtases temporais, então cada um desses êxtases também deve ter uma forma autêntica e uma inautêntica. As formas autênticas devem, portanto, ser contrastadas com as formas inautênticas dos êxtases temporais.…
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“A antecipação do Dasein em resolução corresponde a uma presentificação segundo a qual a resolução revela a situação. A resolução não apenas libera o presente da distração que caracteriza a ocupação imediata, mas também a liga ao futuro e ao passado-presente. Esse presente, englobado por uma temporalidade autêntica e que, portanto, é ele mesmo autêntico,…
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No que diz respeito ao passado, já indicamos o contraste entre o passado-presente (Gewesenheit) e o presente-passado (Vergangenheit) (que corresponde ao que normalmente é chamado de passado). Devemos acrescentar aqui que o verdadeiro passado é essencialmente repetição (Wieder-holung). Isso significa que não é um passado que abandonamos, que deixamos para trás, mas um passado ao…
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A estrutura desse parágrafo §68 (ET68) é, de fato, bastante complicada. Heidegger mostra como o tempo é temporalizado em cada um dos existenciais: a compreensão autêntica é temporalizada a partir do futuro, a disposição afetiva a partir do passado e a linguagem a partir do presente. Em cada um desses modos de temporalização, portanto, um…
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(… Dasein) é composto de duas palavras: Da e Sein. Da é geralmente traduzido como aí, Dasein como ser-aí. Mas essa tradução não transmite o significado heideggeriano da palavra. O português aí traduz Da como um advérbio de lugar. No entanto, para Heidegger, Da não designa um determinado lugar, mas a abertura do Dasein sobre…
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Para Heidegger, ainda estamos, na melhor das hipóteses, a caminho da Gelassenheit. Nosso Dasein ainda não está “aí” na região do não-querer; ainda não demos o salto adequado (de volta) para o Da do Sein. Estar no caminho envolve uma problematização múltipla e implacável da vontade. Antes ainda, para Heidegger, no caminho errante de seu…
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(…) A vontade assegura seu lugar no centro do pensamento de Heidegger primeiramente em 1930, especificamente em sua afirmação da “vontade pura” como a resposta à questão da essência da liberdade humana, uma questão que se diz estar subjacente até mesmo à questão do ser (GA31:303). Essa ideia de uma vontade concreta que “realmente deseja…
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Voltamos, então, mais uma vez, ao caráter de dupla face da vontade, a vontade como incorporação extática, mas agora com uma vantagem crítica ainda maior, pois até mesmo o momento extático é revelado como uma questão de pura extensão do poder pelo poder. A vontade é, afinal de contas, como vemos agora, uma espécie de…
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Para Heidegger, como observamos, o pensamento “entendido da maneira tradicional, como representação, é um tipo de vontade” (G 29/58). “A representação inspeciona tudo que encontra fora de si e em referência a si mesma” (GA6T2:N2 295/219). Ao representar o mundo, a pessoa o traz para sua esfera de conhecimento e ação e, assim, o mundo…
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A tentativa da “metafísica” de “fundamentar” os entes, de estabelecer com certeza a essência de toda a existência, ou mesmo, em última instância, de estabelecer o próprio homem, na forma do sujeito (como hypokeimenon, subiectum ou o “ego transcendental”), como o fundamento dos entes, não está alheia ao conhecimento como representação. A história da metafísica…
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Seguindo Heidegger. Desenvolvi aqui, em um sentido amplo, o significado do termo “vontade” e, no processo, sugeri o sentido em que essa vontade é um problema. Também foi sugerido que o problema da vontade não pode ser simplesmente superado por meio do sacrilégio a uma causa maior, uma Vontade maior. O que significaria, então, ir…