Carneiro Leão (1991:106-107) – A técnica moderna é …

Técnica aqui, nestas colocações de pensamento, não é sinônimo de instrumentação, nem de um sistema mecânico, elétrico ou eletrônico de ferramentas, nem um conjunto de procedimentos, de meios e modos de fazer. Técnica é uma vigência universal e o vigor de um comportamento unidimensionalizante. As máquinas, os equipamentos, os aparelhos não podem escravizar o homem! Só o homem pode escravizar o homem! Por isso a técnica vai reduzindo progressivamente os níveis de relacionamento dos homens com o real e recolhendo a totalidade do real a um padrão único de realização, a saber: à realização controlada, reprocessada e sistematizada do real. Como avalanche histórica desta realização, a técnica é de data recente e pertence às transformações da modernidade. É sempre moderna. E como moderna, nasceu na “Europa dos Povos” e somente na Europa. Trata-se de uma força, ao mesmo tempo, constituinte e resultante da história ocidental-europeia que chegou a impor-se e consolidar-se [106] num processo imperial de tendência planetária. Todos os demais povos conheceram e possuíram uma técnica artesanal, mas somente os povos europeus desenvolveram a técnica moderna.

[CARNEIRO LEÃO, Emmanuel. Aprendendo a pensar. Volume II. Petrópolis: Vozes, 1991]