P — Eu admiro o quanto o senhor percebe o modo de ser dos caminhos do pensamento.
J — Dispomos de uma longa experiência. Essa não se transformou porém numa metodologia conceituai que destrói toda a vitalidade dos passos do pensamento. Ademais, o senhor mesmo me deu oportunidade de ver com maior nitidez o caminho de seu pensamento.
P — Como assim?
J — Embora ultimamente o senhor venha fazendo economia da palavra “ser”, há pouco tempo a usou de novo num contexto que me parece inclusive o mais essencial de seu pensamento. Na Carta sobre o humanismo, o senhor chama a linguagem de “casa do ser”. Ainda hoje, no início da conversa, o senhor se referiu a esta formulação. Mas, ao lembrar, tenho de dizer que nossa conversa se afastou muito de seu caminho.
P — É o que parece. Na verdade, estamos prestes a entrar em seu caminho.
J — Não estou vendo bem. Começamos a falar da interpretação estética do iki, ensaiada por Kuki.
P — Procuramos fazê-lo, mas não posso evitar de pensar no perigo da conversa.
J — Reconhecemos a seguir que o perigo se esconde na própria essência da linguagem.
P — E, há pouco, o senhor evocou a formulação “casa do ser” que pretende dizer a essência da linguagem.
J — Assim, permanecemos realmente no caminho da conversa.
P — Mas só o conseguimos porque sem saber ao certo obedecemos à única coisa que, segundo suas palavras, assegura a possibilidade de êxito de uma conversa.
J — É o determinante indeterminado…
P — quando deixamos intacta a voz de seu apelo,
J — mesmo com o risco de, em nosso caso, a voz ser o próprio silêncio.
P — Em que o senhor pensa agora?
J — Na mesma coisa que o senhor, na essência da linguagem.
P — E o determinante de nossa conversa, mas, ao mesmo tempo, não devemos tocá-lo.
J — Certamente que não, no caso em que se entenda tocar como apreender, no sentido europeu de uma formação conceitual. [GA12]