As situações concretas, as circunstâncias sem as quais não somos aquilo que somos, são apenas mediações. Nelas tematizamos o ser-humano, nelas nos apercebemos como passagem, movimento, processo indefinido, ponte, abertura que ultrapassa todas as determinações.
Essas mediações são o concreto de nosso viver. Sem elas não há caminho. Elas são o caminho, a ponte, o processo de humanização. São aquilo que o homem é: masculino ou feminino, doente ou com saúde, exercendo esta ou aquela profissão, vivendo esta ou aquela época. Essas mediações são o modo determinado de ser, a chance humana, a terra. Nesse sentido escreve Saint-Exupéry:
«Mais coisas sobre nós mesmos nos ensina a terra que todos os livros. Porque nos oferece resistência. Ao se medir com um obstáculo, o homem aprende a se conhecer» (Saint-Exupéry, Terra dos Homens, p. 2).
Por conseguinte, para que se torne evidente que o efetivamente dado é apenas mediação ou passagem para o homem poder ser, é preciso viver o efetivamente dado. Só o viver efetivo, o viver engajado, o viver reflexo, faz surgir a abertura e mostra o homem como inobjetivável, como um horizonte que recua a cada nova aproximação, semelhantemente ao amado que se torna sempre mais inobjetivável, mais diferente, mais misterioso, mais distante, mais «outro», quanto mais o amante dele se aproxima, quanto mais o ama.