A radicalização da problemática fenomenológica da intencionalidade atinge o seu clímax no conceito de Ereignis, que não tivera lugar em Ser e Tempo, mas constitui o cerne da meditação dos Beiträge. Nele, está pensado o tempo cairológico do mútuo apropriar-se do ser e do aí em que toma forma: o erigir-se dos humanos em ser-o-aí (do ser) no instante propício do mais próprio dar-se do ser. O acontecimento dessa apropriação recíproca manifesta-se de muitas maneiras: em palavra, gesto, ato, obra. Mas, no último Heidegger, tem a sua máxima expressão naquilo a que chama «pensar»: o «pensar-propício» (Ereignis-Denken), aquele que não é calculador nem metafísico, que é «outro» relativamente ao já sido, filosoficamente desenrolado, e que, em última instância, é um gostar (mögen) de ser (do ser), que torna possível (möglich) e grato (dankend) o novo, que só assim pode propiciar-se. O mesmo acontece no amor, enquanto apropriação que expropria e enquanto é apropriado para a diferença. O presente trabalho explora esse vínculo entre pensar e amar como âmbito propício ao acontecimento do novo e defende a sua irredutibilidade à concepção inicial de qualquer objeto intencional.
Borges-Duarte (2019) – pensar-propício
- Borges-Duarte (2003) – O espelho equívoco. O núcleo filosófico da entrevista ao Spiegel
- Borges-Duarte (2012) – O Pai devorador de seus filhos
- Borges-Duarte (2018) – estar em casa do amor
- Borges-Duarte (2018) – Sossego e desassossego: o paradoxo do tempo vivido
- Borges-Duarte (2020) – A aventura como abertura afectiva do a-vir: uma abordagem fenomenológica
- Borges-Duarte (2021) – Cuidado e bom humor em Heidegger
- Borges-Duarte (2022) – Ereignis
- Borges-Duarte (2024) – o que é estar em casa?
- Borges-Duarte: A origem da obra de arte
- Borges-Duarte: Dasein