A principal dimensão segundo a qual a presença concebida como ad-vir é temporalizada é o futuro. {Sein und Zeit} poderia, portanto, afirmar que “o futuro é o sentido da temporalidade”. Ainda hoje, essa formulação está repleta de mal-entendidos. Em {Ser e Nada}, por exemplo, Sartre contrasta sua própria valorização do presente com a pseudovalorização heideggeriana do advir e do futuro. Precisamos dar uma olhada mais de perto nessa oposição, que se baseia na confusão e no mal-entendido: a confusão do advir e do futuro, o mal-entendido do presente, ou melhor, da própria presença. É certo que a mesma palavra, die Zukunft, designa em alemão o advir e o futuro. Mas, na verdade, Heidegger não está falando sobre o futuro aqui, mas unicamente do advir. O advir pertence à temporalidade extática e original, o futuro, ao contrário, à temporalidade nivelada e derivada. O próprio senso comum está bem ciente de que o advir e o futuro nem sempre se sobrepõem. Um homem, por exemplo, que diz ou é dito ser “sem advir” ainda tem um futuro? E, inversamente, será que não podemos encontrar — talvez na esperança — um pensamento sobre o advir que seja exclusivo de qualquer suposição sobre o futuro? Mas além dessas distinções necessárias, precisamos restabelecer a verdade viva da própria presença. O advir, ou melhor, o ad-vir, é o verdadeiro nome da presença. Portanto, não há contradição no desenvolvimento do pensamento heideggeriano entre a ênfase inicial no advir como um sentido de temporalidade e a importância dada agora à noção de presença como a primeira dimensão do tempo. Die Zukunft pode muito bem ser o advir ou o futuro. Das Anwesen: a presença como tal não é die Gegenwart: o presente da presença das únicas coisas presentes. Das Anwesen é antes die Zukunft: o advir ou a vinda, a aproximação ou a chegada do tempo verdadeiro.
O advir é o primeiro êxtase da temporalidade: a existência sempre precede a si mesma. Ser, nesse sentido, é sempre estar a uma distância e por desígnio de si mesmo, na compreensão do ser. Ser é ser a priori. Significação existencial, temporânea, ou melhor, “temporal” do α priori. O avanço ou avançamento do a priori não se dá no curso do tempo; ao contrário, ele acusa ao contrário a produção — de modo algum corrente, nem cursiva — do tempo ele mesmo.