Bellantoni: O que aflige a bioética filosófica?

nossa tradução

O que aflige a bioética filosófica? Isso pode parecer uma pergunta estranha. Nenhum campo da prática filosófica contemporânea é mais amplamente debatido ou mais repleto de implicações práticas além das estreitas atividades acadêmicas da disciplina. Hoje, filósofos e bioeticistas atuam em conselhos de ética, prestam consultoria em comitês consultivos e buscam influenciar políticas públicas em uma ampla gama de práticas biomédicas, desde pesquisas com células-tronco a cuidados no final da vida. No entanto, mesmo um exame superficial dos artigos de pesquisa e livros produzidos por esses bioéticos não revela nada distintamente filosófico sobre suas avaliações. Suas análises éticas enfatizam o mesmo leque de considerações práticas que as oferecidas por médicos, psicólogos, enfermeiros e até cientistas e teólogos políticos – todos eles que se tornaram potenciais bioeticistas. Análises que aplicam um tipo específico de ética filosófica – por exemplo, utilitária, ou baseada em virtudes, ou deontológica ou pragmática – também envolvem tipicamente não questões de grande importância filosófica, mas as questões mais mundanas e estritamente confusas de como aplicar princípios genéricos de moral tais como beneficência e justiça em casos específicos.

Ausente dessas investigações, há alguma atenção sustentada e substantiva às questões que mais capturam a atenção do público. Excluem a discussão da alma humana, da mortalidade e do que torna a vida humana distintamente humana e valorizada como tal. Essas são, é claro, as antigas preocupações metafísicas que foram expulsas à força da análise filosófica há quase um século atrás por aqueles que insistiam que tais ideias, sem referências empiricamente identificáveis, eram inadmissíveis na discussão filosófica adequada. Sob esse ponto de vista, a filosofia cresceu e deixou de abordar questões curiosas como de que somos feitos e o que acontece conosco quando morremos. Para muitos bioeticistas filosóficos, a exclusão metodológica de tais preocupações as divorcia adequadamente não apenas de crenças religiosas sectárias, mas também de quaisquer presunçòes metafísica que não podem ser empiracamente defendidas. Isto efetivamente privatiza tais questões, deixando à discrição individual crenças sobre o bem supremo das pessoas humanas.

Para os bioeticistas filosóficos, privatizar essas crenças impede que algumas pessoas imponham suas crenças sobre outras. Previsivelmente, no entanto, alguns dos excluídos do debate racional geralmente buscam meios alternativos para introduzir seus compromissos na arena das políticas públicas, por força da lei ou pelo voto da maioria, ou mesmo por intimidação ou violência. O bombardeio de clínicas de aborto, perpetrado para defender a santidade da vida humana, ressalta a compra de tais ideais etéreos. No entanto, note que a bioética filosófica contemporânea carece de alma, metodologicamente, expressa uma preocupação mais ampla em relação ao escopo do discurso filosófico. Tradicionalmente, a investigação filosófica levou em conta considerações sobre a alma, a relação entre alma e corpo e nosso caminho adequado em nossa preparação para a morte, como dignas de discussão racional e admissíveis de debates não-sectários. [BELLANTONI, Lisa. The Triple Helix: The Soul of Bioethics. New York: Palgrave Macmillan, 2011, p. 1-2]

Original

What ails philosophical bioethics? That may seem an odd query. No field within contemporary philosophic practice is more widely debated or more fraught with practical implications beyond the discipline’s narrow academic pursuits. Today, philosophers-cum-bioethicists serve on ethics boards, consult with advisory committees, and seek to influence public policy on a broad range of biomedical practices, from stem cell research to end-of-life care. Yet even a cursory examination of the research articles and textbooks produced by these bioethicists reveals nothing distinctively philosophical about their evaluations. Their ethical analyses emphasize the same range of practical considerations as those offered by physicians, psychologists, nurses, and even political scientists and theologians – themselves all turned would-be bioethicists. Analyses which apply a specific type of philosophical ethics – for example utilitarian, or virtue-based, or deontological, or pragmatic – too, typically involve not matters of grand philosophical import, but the more mundane and narrowly confounding questions of how to apply generic moral principles such as beneficence and justice to specific cases.

Absent from these investigations is any sustained, substantive attention to the questions which most capture public attention. They exclude discussion of the human soul, of mortality, and of what makes human lives distinctively human and valued as such. These are, of course, the antique metaphysical concerns that were forcibly expelled from philosophical analysis nearly a century ago, by those who insisted that such ideas, lacking empirically identifiable referents, were inadmissible in proper philosophical discussion. On this view, philosophy grew up, and ceased addressing quaint queries such as what we are made of, and what happens to us when we die. For many philosophical bioethicists, ultimate good of human persons.

For philosophical bioethicists, privatizing such beliefs prevents some persons from imposing their beliefs upon others. Predictably, however, some of those excluded from rational debate often pursue alternative means to introduce their commitments into the arena of public policy, by force of law or majority vote, or even through intimidation or violence. The bombing of abortion clinics, perpetrated to defend the sanctity of human life, underscores the purchase of such ethereal ideals. Yet to note that contemporary philosophical bioethics lacks soul, methodologically, expresses a broader concern relating to the scope of philosophical discourse. Traditionally, philosophical investigation has deemed considerations of the soul, the relation of soul and body, and our proper path in our preparation for death, as worthy of rational discussion and admissible of non-sectarian debate.