Somente os poucos e raros homens, que têm ouvidos para esse inaudível, apreenderão o “Incipit tragoedia”. Ora, mas como Nietzsche compreende, afinal, a essência do trágico e da tragédia? Sabemos que o primeiro escrito nietzschiano dedicou-se à pergunta sobre o Nascimento da tragédia (1872). A experiência do trágico e a meditação quanto à sua origem e à sua essência pertencem à consistência fundamental do pensamento nietzschiano. Na medida em que seu pensamento foi mudando internamente e se tornando mais claro, também se tornou mais claro o seu conceito do trágico. Desde o princípio, porém, ele se colocou contra a interpretação aristotélica, segundo a qual o trágico traria consigo a κάϑαρσις. Ao provocar o surgimento de terror e compaixão, a tragédia traz consigo a purificação e a elevação morais. “Por diversas vezes coloquei o dedo diretamente na grande incompreensão de Aristóteles, que acreditava poder encontrar os afetos trágicos em dois afetos depressivos, no pavor e na compaixão” (A vontade de poder, n. 851, 1888). O trágico não tem absolutamente nenhuma relação com o elemento moral. “Quem não experimenta senão um gozo moral ante a tragédia ainda tem de subir alguns degraus” (XII, 177, 1881-1882). O trágico pertence ao elemento “estético”. Para clarificarmos esse ponto, precisamos apresentar a concepção nietzschiana da arte. A arte é “a” atividade metafísica da “vida”; ela determina como o ente na totalidade é, na medida em que ele é: a arte maximamente elevada é a arte trágica; ou seja, o trágico constitui a essência metafísica do ente. (GA6T2:278-279; GA6T2MAC:216)
VIDE: (Tragödie->http://hyperlexikon.hyperlogos.info/modules/lexikon/search.php?option=1&term=Tragödie)