Streit

Streit, luta, litige, contienda, ἔρις, heris, eris, πόλεμος, polemos, pólemos, guerra, war, guerre, polêmica, polêmico

Sem dúvida, é preciso aqui afastar da palavra “luta” a representação comum, em que predomina a esfera do ódio e da ira (Bezirk des Zankes und des Haders). “Combate” (Kampf) e “guerra” (Krieg) também não seriam suficientes para exprimir a essência do que aqui se vem chamando de “luta”, de “ἔρις”. Combate e guerra são uma espécie e uma subespécie (Art und Abart) do que aqui chamamos de “ἔρις”, de luta, embora em sua essência a luta não seja, necessariamente, o mesmo que “combate” e “guerra”. Só será possível tentar pensar aquilo que constitui o a-se-pensar (Zudenkende) para o pensador originário Heráclito fazendo-se o encontro da luz (Licht) e do fogo (Feuer), do jogo (Spiel) e da vida (Leben) e, em todos eles, da “luta”. O que a deusa Artemis deixa transparecer em seu aparecimento indica o que constitui o a-se-pensar (Zu-denkende) para o pensador. (GA55MS:40)


“Verdade” não é jamais, “em si”, apreensível por si, mas necessita ser ganha na luta. O desencobrimento é conseguido do encobrimento, em luta com ele. O desencobrimento não é conseguido, somente, por meio de uma luta, no sentido geral de que entre os homens se busca a verdade e se luta por ela. Antes, o que é buscado e o próprio objeto da luta são, em si, na sua essência, uma luta, independentemente da luta do homem por ela: “desencobrimento”. Não é claro quem está lutando e como estes participantes da luta estão lutando. É importante, no entanto, pensar uma vez esta essência conflitante da verdade, uma essência que brilha há 2.500 anos na mais tênue de todas as luzes. Faz-se necessário experimentar, propriamente, a luta que acontece na essência da verdade. (35)

Naturalmente também a essência da luta permanece, inicialmente, controversa. Presumivelmente, “luta” significa outra coisa do que simples rixa e briga, discórdia cega, “guerra” ou “competição”. Talvez tudo isso sejam apenas variações e apelações iniciais da luta, em cuja essência primordial podemos suspeitar residir a essência da verdade no sentido da ἀλήθεια, a qual um dia haveremos de reconhecer. Talvez a palavra tão mal usada e truncada de Heráclito, Πόλεμος πάντων … πατήρ ἐστι como dizendo: “A guerra é o pai de todas as coisas…”, tenha em comum com o pensar grego somente um eco verbal vazio.

Mas como podemos conhecer algo preciso da essência de πόλεμος (palavra esta que, segundo o dicionário, significa também “guerra”), como podemos ainda somente intuir a essência, aqui nomeada, do “polêmico”, quando não sabemos nada de uma luta que é familiar à essência da verdade? Como devemos conhecer o originariamente conflitante da luta na essência da verdade, quando não experimentamos sua essência como descobrimento e conhecemos a ἀλήθεια no máximo, ainda, segundo um som de palavra que produz apenas rumor em toda parte? A essência conflitante da verdade para nós, e para o pensar ocidental, já é há longo tempo estranha. “A verdade” vale, ao contrário, como o que está para além de toda a luta e por isso deve permanecer o não-conflitante.

Por essa razão, não compreendemos em que extensão a essência da verdade, ela mesma, é, em si, uma luta. Se, no entanto, a essência conflitante da verdade foi experimentada no pensar primordial dos gregos, então não precisamos nos deixar surpreender se encontramos nos ditos do pensar originário propriamente a palavra “luta”. Desde a interpretação do mundo grego realizada por Jacob Burckhardt e Nietzsche temos aprendido a reconhecer o “princípio agônico” e um “impulso” essencial na “vida” desse povo mediante a “luta competitiva”. Mas faz-se necessário ir adiante para interrogar onde está fundado o princípio do “agon” e de onde a essência da “vida” e do homem recebe sua determinação de tal modo a ser “agônica”. A “competitividade” (Weltkämpferische) só pode surgir onde o caráter conflitante é experimentado, antes de tudo e simplesmente, como o que é essencial. Mas sustentar que a essência (36) agônica do mundo grego se deve a uma correspondente predisposição do povo seria uma “explanação” não menos sem evidência do que dizer que a essência do pensar está fundada na capacidade de pensar.

Por um lado, notamos, até agora, que desencobrimento pertence a um âmbito onde se dá encobrimento e latência. Por outro lado, des-encobrimento testemunha uma essência conflitante, ou seja, ela é desencobrimento, se nela se dá o que se embate com o encobrimento. (GA54SMW:35-37)


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litige (EtreTemps)