tradução do inglês
A biologia recente nos familiarizou com o pensamento de que a vida física do indivíduo é sinônimo de seu sistema imunológico totalmente desenvolvido. Sob essa luz, a vida parece ser o drama maravilhoso da delimitação bem-sucedida do organismo de ambientes invasivos. Ao estender essa abordagem sistêmica, torna-se aparente que o princípio da imunidade não deve apenas ser entendido em termos de bioquímica, mas também psico-dinamicamente e mentalmente. Deste ângulo, devemos considerá-la como uma realização da vitalidade organísmica no ser humano que, como indivíduo e como ser comunitário, ele é capaz de privilegiar espontaneamente e energeticamente seu próprio modo de vida, suas próprias valorizações, de suas próprias convicções e de suas próprias histórias que interpretam o mundo. Do ponto de vista sistêmico, poderosos narcisismos são indicações de uma integração afetiva e cognitiva bem-sucedida do ser humano em si mesmo, em seu coletivo moral e em sua cultura. O narcisismo resiliente entre os indivíduos, como no caso de grupos, seria o indicador imediato de uma história vital e bem-sucedida, que permitiu que seus portadores até esse ponto se movessem dentro de um continuum de auto-afirmações e auto-preferências. Onde o escudo narcisista está intacto, o indivíduo vive convencido da vantagem incomparável de ser ele mesmo. Ele pode celebrar permanentemente sua semelhança consigo mesmo. A forma habitual dessa celebração é o orgulho. Quem se orgulha de si mesmo e de seu grupo produz endogenamente uma vitamina material-imaterial, por assim dizer, que protege o organismo de informações invasivas.
Informação invasiva que rompe o escudo narcísico de um organismo psíquico é chamada uma “mágoa” no discurso cotidiano. Quando o orgulho do indivíduo é atacado, ele tem a experiência de que informação que inicialmente não podia ser evitada invadiu e que está, portanto, em um estado de integridade perdida. Uma mágoa é a dor de ter algo rompido que, por um momento ou por um período prolongado, é mais forte que a homeostase narcísica. Se alguém entende o narcisismo primário como o fantasma operativo da integridade psíquica do “organismo”, o conceito de mágoa descreve um ataque patogênico ao escudo de elação do indivíduo. Não apenas qualquer brecha opera de uma maneira que magoa, mas apenas aquela invasão do organismo que convence uma das desvantagens de ser ele mesmo. No entanto, a inteligência humana parece ter à sua disposição a capacidade de superar tais experiências de desvantagem e de integrá-las em estados mais maduros. O paradigma para essa dinâmica de amadurecimento é encontrado no nível somático: as chamadas doenças da infância podem ser descritas como um currículo de crises corporais, através do qual os sistemas imunológicos em ambientes específicos se treinam para seus invasores microbianos. Por analogia, a psique infantil precisaria passar por uma sequência de mágoas bem controladas; pelo trabalho através delas, alcança o poder de delimitar e afirmar-se em seu contato com o que é semelhante e com o que é estranho a ele. O resultado desta passagem através de uma série de mágoas informativas seria, em um curso favorável dos eventos, um amadurecimento do escudo narcísico ao nível em que os confrontos entre o organismo psíquico adulto e seu ambiente tipicamente têm lugar em uma dada cultura. O indivíduo maduro desfruta da vantagem de ser ele mesmo depois de superar os episódios em que teve experiência com a desvantagem de ser ele mesmo. Goethe formulou a posição do narcisismo pós-traumático de uma maneira clássica: o sofrimento passado é benquisto para mim.
Recent biology has made us familiar with the thought that the physical life of the individual is synonymous with its fully developed immune system. In this light, life appears to be the wondrous drama of the successful delimitation of the organism from invasive environments. In extending this systemic approach it becomes apparent that the principle of immunity is not only to be understood in terms of biochemistry, but also psycho-dynamically and mentally. From this angle, we should regard it as an accomplishment of organismic vitality in the human being that, as an individual and as a communal being, he is capable of a spontaneous and energetic privileging of his own way of life, of his own valuations, of his own convictions, and of his own stories that interpret the world. From the systemic vantage point, powerful narcissisms are indications of a successful affective and cognitive integration of the human being into himself, into his moral collective and into his culture. Resilient narcissism among individuals, as in the case of groups, would be the immediate indicator of a vital, successfully developed history that has allowed its bearers to this point to move within a continuum of self-affirmations and self-preferences. Where the narcissistic shield is intact the individual lives convinced of the unparalleled advantage of being itself. It can permanently celebrate its similarity with itself. The habitual form of this celebration is pride. Whoever takes pride in himself and his group endogenously produces a material-immaterial vitamin, as it were, that protects the organism from invasive information.
Invasive information that breaks through the narcissistic shield of a psychical organism is called a ‘wound’ in everyday speech. When the individual’s pride is attacked, it has the experience that information which initially could not be warded off has invaded and that it is thereby in a state of lost integrity. A wound is the pain of having something break through that for the moment or for a sustained period of time is stronger than the narcissistic homeostasis. If one understands primary narcissism as the psychical ‘organism’s’ operative phantasm of integrity, then the concept of wounding describes a pathogenic attack on the individual’s shield of elation. Not just any breach operates in a manner that wounds, but rather only that invasion of the organism that convinces one of the disadvantage of being oneself. Nevertheless, human intelligence appears to have at its disposal the capacity for getting over such experiences of disadvantage and for integrating them into more mature states. The paradigm for this dynamic of maturation is found on the somatic level: so-called childhood illnesses can be described as a curriculum of bodily crises, through which immune systems in specific environments train themselves for their microbial invaders. On analogy to this, the child psyche would have to pass through a sequence of well-controlled wounds; by working through them, it achieves the power of delimiting and asserting itself in its contact with what is like it and with what is alien to it. The result of this passage through a series of informative wounds would in a favorable course of events be a maturation of the narcissistic shield to the level at which the confrontations between the adult psychical organism and its environment typically take place in a given culture. The mature individual enjoys the advantage of being itself after overcoming episodes in which it had experience with the disadvantage of being itself. Goethe formulated the position of post-traumatic narcissism in a classic way: past suffering is dear to me.