Seinlosigkeit

Heidegger mostra uma certa confusão sobre a relação entre o ser, os entes e o abandono do ser. Em 1943, escreveu que: “Sem o ser, cuja essência abissal, mas ainda não desdobrada, nos é comunicada na angústia essencial pelo nada, todos os entes permaneceriam na falta do ser (Seinlosigkeit). Mas mesmo isto (falta de ser) como abandono-pelo-ser (die Seinsverlassenheit) não é por sua vez um nada negativo (nich-tige), se, de fato, pertence à essência do ser que o ser sem dúvida se essencialize sem os entes, mas que um ente nunca seja sem o ser (dass das Sein wohl west ohne das Seiende, dass niemals aber ein Seiendes ist ohne das Sein)” (NWM, 304, 385). Em 1949, ele corrigiu as últimas duas cláusulas para: “que o ser nunca se essencialize sem os entes, que um ente nunca seja sem o ser (dass das Sein nie west ohne das Seiende, dass niemals ein Seiendes ist ohne das Sein)”. Seinlosigkeit possui dois sentidos: 1. A pura inexistência do ser, tanto presente quanto ausente, o “nada negativo”; 2. A ausência do ser, Seinsverlassenheit. Em 1943 e em 1949 (mas não em SZ), Heidegger diz que não poderia haver entes se houvesse Seinlosigkeit no sentido 1. Implica tacitamente que pode haver entes se há Seinlosigkeit no sentido 2 (cf. GA65, 115). Em 1943, diz que mesmo que não houvesse entes não haveria absolutamente Seinlosigkeit no sentido 1, mas que ainda assim haveria ser, de uma forma ou de outra. Em 1949, assevera que, se não houvesse entes, haveria Seinlosigkeit no sentido 2, o ser não iria “essencializar-se”. A confusão é, portanto, compreensível. (DH)