Seiende im Ganzen

entes como um todo, beings as a whole

Em GA10 e em outras passagens (p.ex., GA27, 239ss), Heidegger a aborda por meio de uma “história do conceito de mundo”, que envolve a história filosófica não apenas da palavra alemã Welt, mas também da grega kosmos e da latina mundus, em uma viagem que se estende desde os gregos pré-socráticos, passando por são Paulo, santo Agostinho, e são Tomás, até Kant, e também pelos usos desvirtuados do século GA19 da palavra Weltanschauung, “ visão-de-mundo”. A conclusão deste levantamento é que há três noções de mundo: (a) entes como um todo (das Seiende im Ganzen); (b) a comunidade dos homens; e, mais satisfatoriamente, (c) homens em relação aos entes como um todo. (DH:120)


O fato de Dasein ter várias possibilidades (Möglichkeit) abertas é uma das razões para Heidegger supor que Dasein é consciente dos entes como um todo. Focalizar em um ente (Seiende) isolado pode nos dizer que ele é atual. Mas o que é possível depende de um todo (Ganze) mais amplo. Não me é possível saber se posso, por exemplo, fazer uma conferência, a não ser que eu saiba que ela foi publicada, que há uma sala disponível, que eu estou em uma universidade etc. (cf. GA29, 528ss). Mas a esfera de possibilidades que Dasein concebe como abertas, e em função das quais ele se compreende, não é fixa. Posso fazer uma conferência sobre o tópico divulgado, de um certo modo ou de outro; posso fazer uma conferência sobre o tópico divulgado ou sobre um tópico muito diferente; posso continuar a fazer conferências ou abandoná-las e tornar-me um fazendeiro. Diferentes modos de conceber minhas possibilidades invocam todos de esferas variadas; se considero o tornar-me um fazendeiro, levo em consideração minha instrução passada, o preço da terra etc. Posso não considerar minhas próprias possibilidades e selecionar alguma das opções oferecidas pelo IMPESSOAL (das Man). Concentro-me no presente e no futuro imediato, dando pouca importância aos entes como um todo. (DH:147-148)


«Qualquer projecto (e por consequência também qualquer actividade «criadora» do homem) é lançado, quer dizer, determinado pela dependência do Dasein a respeito do ente na totalidade, sempre já dada, dependência que não pode ser dominada»14. «O ente na totalidade» significa aqui natureza no sentido de physis. «Ser lançado» não é depender da natureza até mesmo no nosso próprio ser? Ainda que fortemente sublinhada aqui esta «dependência» em relação à natureza e à vida, nunca é explicitada na obra, nem antes, nem depois da Viragem efectuada a partir de 1930. (HEH:21)